
O antídoto da transparência
Depois de 28 dias sem o registro de novos casos de gripe aviária em granjas comerciais, o Brasil se declarou livre da doença na última quarta-feira, comunicando imediatamente a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) para que a entidade reconheça essa nova condição. O prazo de conclusão do chamado vazio sanitário, que começou a ser contado no dia 22 de maio depois da desinfecção da granja de Montenegro onde ocorreu o único foco conhecido em produção comercial, foi cumprido rigorosamente, com a observância de todos os protocolos recomendados pela entidade internacional. Cumpre-se, assim, uma etapa decisiva para que o país volte a ser reconhecido como livre da influenza aviária sem vacinação.
O próximo passo, agora, é reconquistar a confiança dos importadores, uma vez que cerca de 80 países embargaram total ou parcialmente a compra de produtos brasileiros desde que a doença foi anunciada. O lamentável episódio causou prejuízos consideráveis para os exportadores gaúchos e para a economia nacional, mas também evidenciou a robustez do sistema sanitário brasileiro e o tratamento transparente dispensado à crise.
Tão logo o foco foi constatado, as autoridades nacionais e estaduais, com a pronta colaboração dos produtores gaúchos, isolaram a área, eliminaram as aves restantes e promoveram a desinfecção e a vistoria de todas as propriedades rurais num raio de 10 quilômetros da granja afetada. Também montaram barreiras sanitárias para impedir a transmissão do vírus para outras localidades. Fomos eficientes no dever de casa.
Apesar da pronta ação do Ministério da Agricultura, que impediu que alguns países suspendessem totalmente as importações de aves brasileiras, o prejuízo foi grande. As exportações de frango do Brasil caíram 13% no mês de maio na comparação com o mesmo mês de 2024, segundo cálculos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Além disso, até a última quarta-feira, a União Europeia e outros 19 países mantinham bloqueio às aves de todos os Estados brasileiros. Outros 20 importadores, entre os quais compradores importantes como a Arábia Saudita e o México, continuam restringindo apenas produtos do Rio Grande do Sul.
Nesse contexto, mais do que nunca a transparência se afigura como o melhor antídoto para a desconfiança. O Ministério da Agricultura já divulga numa página oficial todos os casos confirmados descartados de suspeitas de gripe aviária, mas agora o governo precisa também implementar uma ação diplomática focada nos países que suspenderam as compras de aves e ovos produzidos no Brasil.
O desafio de recuperar mercado deve envolver também o governo do Estado - a começar pela comunicação eficaz das medidas adotadas pela Secretaria de Agricultura, que realizou quase 3 mil vistorias em 540 propriedades localizadas no perímetro do foco. Não basta apenas aumentar a vigilância e o controle da produção comercial de aves para que não ocorram novos casos de doenças contagiosas. O Rio Grande do Sul tem que mostrar que promove permanentemente monitoramento contínuo e medidas de biossegurança na sua produção de aves e ovos.
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