
Estranhas mensagens
Não é incomum eu me surpreender ao ler alguma mensagem ou e-mail. Talvez por inocência ou pela minha fé irredutível na humanidade, jamais imagino que uma pessoa possa ver o sofrimento alheio e ser indiferente ou, em casos piores, até achar isso bom.
Nessa semana, duas situações tomaram conta dos meus pensamentos a ponto de me fazerem refletir sobre o que, de fato, é mais importante (ou cômodo) para a sociedade: resolver problemas atacando as causas dele ou justificar as tragédias com base no próprio comportamento do ser humano - jogando a culpa pra cima da vítima, na maior parte dos casos.
Vou compartilhar, então, as mensagens que me assustaram. Na terça-feira, no Jornal do Almoço, mostramos um homem que trabalha, mas que precisa dormir na rua porque há mais de um ano perdeu a casa na enchente e ficou invisível para os programas de apoio anunciados para quem teve prejuízo no ano passado. Ele tentou, mas recebeu negativas de todos os governos: federal, estadual e municipal.
Depois das reportagens, a prefeitura da Capital disse que uma das negativas de um dos projetos que daria R$ 5,2 mil para ele estava errada e que ele vai receber esse apoio.
As mensagens (mais de 20) que recebi não foram para perguntar se eu teria o contato ou alguma maneira para ajudar esse homem. NENHUMA. Todas as mensagens sugeriam que ele ou alugasse uma peça pra morar com o dinheiro que está recebendo do trabalho novo ou buscasse apoio de projetos do governo (como se ele já não tivesse feito isso e recebido redondos e grandes NÃOS).
As outras mensagens que me incomodaram foram publicações de conhecidos e amigos que apareceram na minha timeline, não foram endereçadas privadamente a mim o que deixa isso ainda mais grave. Está lá no mural das pessoas que, sem qualquer constrangimento, resolvem escolher um lado de um conflito armado e potencialmente perigoso para o mundo.
A crescente tensão entre Irã e Israel despertou em algumas pessoas a vontade de escolher um lado. Vamos pensar juntos? Numa briga a gente deve mesmo escolher alguém para torcer? Será mesmo que se ganha algo vendo o sofrimento de outras pessoas? É claro que não.
O único caminho desejável para qualquer conflito é que ele termine. Nada além disso é humano, correto e civilizado.
O conteúdo desta coluna reflete a opinião do autor
MARCO MATOS
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