quinta-feira, 19 de junho de 2025


Surpresa relativa e aviso de "interrupção" de ciclo

Não foi uma surpresa total, ainda mais para um horizonte mais denso que a Muralha da China. Mas a maioria dos analistas esperava para esta quarta-feira o fim do ciclo de alta de juro... que não houve. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar o juro mais 0,25 ponto percentual, para 15%, invocando, inclusive "cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica".

Nem precisaria de tradução, a essa altura, mas às vezes é preciso explicitar o óbvio: o Copom teme o impacto econômico do conflito entre Israel e Irã. Nesse ponto, aliás, foi mais claro do que o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos), que nem mencionou o possível envolvimento das forças armadas americanas no enfrentamento no Oriente Médio. Mas se deu má notícia, o Copom também trouxe algum alívio:

"Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta".

Escolha de palavras

Como a escolha de palavra é essencial, é importante observar que o termo empregado não é "fim" do ciclo, mas "interrupção". Faz diferença: se o Copom tivesse segurança de que será possível segurar a taxa onde está já a partir da próxima reunião, em 30 de julho, poderia usar "fim". Nesse caso, aplica a si mesmo o conceito de cautela.

Avisa que tem a intenção de parar "em se confirmando o cenário esperado", ou seja, não descarta surpresas à frente. E enquanto o debate sobre o ajuste das contas públicas ganha espaço, o Copom reforçou que "segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros". E reforçou que "para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado". _

Ainda navegando sob fumaça de guerra e chuva de palavras do presidente dos EUA, Donald Trump, os mercados seguiram com a bússola inoperante ontem. O dólar oscilou 0,04%, para R$ 5,50, e a bolsa variou -0,09%.

Petróleo encosta em US$ 80 com temor de acesso a Ormuz

Depois da escalada verbal do presidente dos Estados Unidos, o maior temor do mercado sobre os desdobramentos do conflito entre Israel e Irã foi reforçado. O aitolá Ali Khamenei, que foi ameaçado de morte por Donald Trump, reagiu também com palavras violentas e reacendeu a preocupação com o eventual fechamento do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do tráfego mundial da matéria-prima.

Ontem, a cotação do barril do tipo brent, principal referência global, oscilou 0,03%, levando os contratos para entrega em agosto ao nível mais alto desde dezembro do ano passado, perto dos US$ 80, em US$ 76,70. Em relação ao preço mais baixo do ano, de 5 de maio (veja gráfico acima) subiu 28%em pouco mais de um mês.

Ehsan Khandouzi, ex-ministro da Economia do Irã, afirmou que navios petroleiros e os de transporte de gás natural liquefeito (GNL) só deveriam passar pelo Estreito de Ormuz com permissão do governo iraniano, e que essa política deveria ser implementada "a partir de amanhã (quinta-feira) por cem dias". Não é uma declaração oficial, mas elevou o alerta.

- Seria benéfico para os EUA e seus aliados garantir que a hidrovia permaneça aberta. Evitaria interrupções nas exportações de GNL do Catar e dos Emirados Árabes Unidos e picos de preços insustentáveis ??após um choque de oferta - avalia o analista sênior da da Rystad Energy Lu Ming Pang.

O analista considera "baixa" a probabilidade de interrupção, porque não se concretizou em episódios anteriores do conflito no Oriente Médio. Mas afirma que, dada a "gravidade significativa", seria "prudente considerar os riscos de entrega da região". _

Recado europeu para Hugo Motta

Dezesseis membros do Parlamento Europeu assinaram carta ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Expressaram preocupação com o projeto de lei que cria a Lei Geral do Licenciamento Ambiental.

Aprovado no Senado com mudanças, o texto voltará à Câmara. Os europeus pedem aos brasileiros que preservem o atual "nível de ambição do arcabouço legal do licenciamento ambiental no Brasil, necessário para proteger adequadamente a natureza e os direitos dos povos indígenas". Antes de ir à votação, reivindicam que seja garantido "processo completo de consulta a especialistas, à sociedade civil e ao público".

Na visão dos europeus, as mudanças aprovadas no Senado "removem disposições essenciais existentes relativas à proteção ambiental". Caso avancem, advertem, vão aumentar "as preocupações existentes na Europa em relação aos potenciais impactos do acordo sobre a floresta amazônica e outros ecossistemas". 

Aprendemos pouco com a tragédia de 2024

Não, a chuvarada que volta a provocar alagamentos e deslocar e até desabrigar famílias no Estado não será a repetição do dilúvio do ano passado, garantem especialistas. Menos mal. Mas não é preciso uma tragédia ambiental nunca antes vista para causar problemas para os gaúchos.

Aprendemos pouco desde maio de 2024. Outra vez, faltaram alertas suficientemente fortes para retirar pessoas de áreas de risco, faltou obra para evitar que áreas vulneráveis voltassem a alagar, faltou infraestrutura para abrigar os desalojados.

Apesar da visibilidade dada à necessidade de "cidades-esponja", seguimos impermeabilizando o solo, acossando rios, cortando árvores e suas raízes sugadoras do excesso de água. É verdade que não se constrói resiliência absoluta em um ano. Mas era preciso ter feito mais e com maior velocidade. Sem isso, estaremos condenados a um eterno retorno à situação de desamparo. 

GPS DA ECONOMIA 

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