
27 de Junho de 2025
Irresponsabilidade
Em novos episódios da "irresponsabilidade compartilhada" entre Executivo e Legislativo sobre as contas públicas, o Congresso aprovou duas legítimas "pautas-bomba": o aumento de cadeiras na Câmara de 513 para 531 e a derrubada do decreto de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sem qualquer alternativa para a arrecadação prevista.
Errou o governo Lula, que tentou transformar imposto regulatório em arrecadatório, e erraram Câmara e Senado. Evidenciaram que a motivação para a derrubada do IOF não tem relação com ajuste fiscal estrutural - caso contrário, não teriam aprovado um aumento de despesa em benefício próprio -, mas à antecipação de 2026.
Falta liderança política, o aspecto técnico está muito bem definido - avalia Felipe Salto, ex-diretor da Instituição Fiscal Independente e economista-chefe da Warren Rena.
Na avaliação de Salto, assim como na do gaúcho Jeferson Bittencourt, ex-secretário do Tesouro, a consequência mais provável será uma nova mudança no arcabouço fiscal. Não é uma opção sem custo: haverá novo desgaste da credibilidade do governo, com reflexo no câmbio e na inflação.
Mesmo com incerteza sobre os desdobramentos, que vão de novos bloqueios e contingenciamentos à judicialização da cobrança de IOF, o dólar teve queda de 0,99%, para R$ 5,499, e o principal indicador da bolsa, o Ibovespa, subiu iguais 0,99%, para 137.113 pontos. O bom humor teve ajuda do IPCA-15, que ficou abaixo do esperado, em 0,26%, e a ameaça à independência do BC dos EUA por Donald Trump debilitou o dólar. E o desgaste do governo agradou. _
Sem marcar passo, mas com vizinhos à frente
O PIB do RS do primeiro trimestre de 2025, apresentado ontem pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), que mostra o avanço de 1,3% frente aos últimos três meses de 2024, é uma boa surpresa: estimativas apontavam variação perto de zero. Por outro lado, outra vez o RS teve desempenho pior do que SC e PR, que cresceram de forma mais expressiva, perto de 5%.
Mesmo com a estiagem do verão passado, a agropecuária teve maior destaque, com alta de 27,3% no período. Porém, o efeito climático derrubou a produção de soja em 37%.
Mas o que salvou a lavoura nas estimativas se confirmou no PIB oficial: uva (36%), fumo (18%), arroz (14%) e milho (6%) seguraram o resultado positivo.
O mais importante, quando se contempla um resultado afetado por estiagem em dias de tensão sobre o avanço das águas, é compreender que os eventos extremos provocados pela mudança do clima chegaram antes do previsto mesmo em avaliações apontadas até há pouco como "alarmistas". Chuva acima da média é uma constante, assim como a falta de. É preciso adaptar a velocidade das respostas à ultravelocidade da mudança. _
Respostas capitais
Marco Marzo
Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Nuclear da Escola Politécnica da USP, ocupou por sete anos o cargo de diretor da divisão de operações do Departamento de Salvaguardas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
"Guerra dos 12 dias abalou acordo de não proliferação nuclear"
O que faz a Abacc?
Verifica todos os materiais nucleares em todas as instalações nucleares de Argentina e Brasil. É única no mundo. Nos anos 1970 e 1980, havia quatro regiões em que se previam armas nucleares: Paquistão e Índia, Coreia do Sul e Coreia do Norte, Israel e Egito e Brasil e Argentina, que na época, estavam sob regime militar. Em 1991, foi assinado o acordo para o uso pacífico da energia nuclear, que criou essa agência bilateral. Índia e Paquistão fizeram armas nucleares. Coreia do Norte e Israel também. A única região que seguiu o caminho da paz foi a nossa.
Tem relação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)?
Em 1994, entrou em vigor um acordo entre Argentina, Brasil, Abacc e AIEA. O papel formal da agência internacional é auditar a Abacc. Na prática, quase todas as inspeções são feitas em conjunto entre Abacc e AIEA.
A suspensão do acordo para inspeção pelo parlamento do Irã é um rompimento?
Ainda tem de ser aprovado pelo líder supremo, mas demonstra que se rompeu a confiança entre Irã e AIEA. O país é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e, por isso, tem instalações nucleares inspecionadas. No início dos anos 2000, a agência desconfiou de atividades não declaradas. E havia um programa militar. A agência relatou incerteza de que era pacífico ao Conselho de Segurança da ONU, que implantou sanções. Até por isso, o Irã abandonou esse programa. Em 2015, fez acordo com EUA, Rússia, China, Inglaterra, França e Alemanha. Congelou o enriquecimento (de urânio) e aceitou que a AIEA inspecionasse mesmo instalações não declaradas. Trump retirou os EUA do acordo em 2018. O Irã recomeçou o enriquecimento. E não deixou mais a AIEA ir a qualquer lugar.
Como chegou até aqui?
Há duas semanas, eu estava em Viena, na reunião da junta de governadores da agência, formada por 35 dos 194 países membros. O diretor-geral Rafael Grossi, que é argentino, apresentou um relatório dos últimos 20 anos e da situação atual. Com base nesse relatório, EUA, Inglaterra, França e Alemanha apresentaram resolução de censura, aprovada em 12 de junho, às 11h30min, eu estava lá. Dos 35 países da junta, 19 aprovaram. À noite, Israel atacou as instalações nucleares do Irã. Depois, o diretor-geral da agência declarou que o ataque contrariava a carta da ONU, o Conselho de Segurança da ONU e as resoluções da AIEA, mas não foi enfático e sequer citou Israel. O Irã viu quebra de confiança.
A decisão do parlamento pode ser usada para negociar?
Estamos muito pessimistas. O Irã tinha tudo sob salvaguarda da agência. E foi atacado. Agora, deve estar raciocinando por que manter o controle internacional, se não está seguro. A guerra dos 12 dias abalou o regime de não proliferação de armas nucleares. É uma situação muito instável e muito difícil. Mas existe a possibilidade de usar para voltar a negociações, como um trunfo.
O que se sabe sobre o que restou das instalações no Irã?
Não se tem certeza de nada. Os inspetores não estão mais lá para relatar. Mesmo que a planta que está a 90 metros de profundidade não tenha sido destruída, foi abalada. As centrífugas giram a mais de 1 mil quilômetros por hora, considerando a velocidade linear. Se o sistema elétrico foi atingido, arrebentam. O Irã deve ter perdido muitas centrífugas em Fordow e quase todas em Natanz, que fica na superfície. Mas tem equipes técnicas, é uma questão de tempo para refazer. Não de meses, mas de anos.
Existe risco de haver armas nucleares em desenvolvimento em áreas não declaradas?
Natanz, Fordow e Isfahan estavam sob salvaguarda, então lá não havia arma nuclear. Se os serviços de inteligência acreditavam que poderia haver outros locais, por que não bombardearam? Os alvos foram só os declarados. A nossa avaliação é de que não há instalações não declaradas.
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