sexta-feira, 11 de abril de 2014

Jaime Cimenti

História, estórias, memórias, memórias inventadas, romances

Há quem diga, brincando ou falando sério: “História é uma coisa que não aconteceu, contada por um cara que não estava lá”. Muitas pessoas, antes de ler livros de História, resolvem investigar a verdade ou as verdades sobre e do historiador ou sobre a entidade que organizou a publicação.

Os requintados e exigentes leitores dos complexos dias pós-modernos que voam por aí não deixam por menos. Já saem perguntando se o autor é revisionista, diversionista, de direita, esquerda, centro, centro-direita ou centro-esquerda, seja lá o que signifique cada classificação e se é que ainda existem classificações válidas por mais de um mês. Alguns historiadores e leitores são mais papeleiros, gostam mais de fontes primárias, documentos e tal, mesmo sabendo que fontes primárias também estão sujeitas a falsificações, chuvas, trovoadas e interpretações.

Existem os que não abrem mão de oralidade, fonte secundárias e terciárias, mesmo sendo estas últimas problemáticas. E dê-lhe história contada pelos vencedores, pelos vencidos, Grande História, pequena História, história da vida privada, da vida pública, história da História, história dos anônimos minoritários etc. Complicado, não? Não está fácil escrever ou saber sobre o passado. Nunca foi. Heródoto, o pai da História, da velha Grécia de séculos antes de Cristo, teve sua obra acusada de plagiaria, influenciável e imprecisa. No Brasil, então, como disse o outro, até o passado é imprevisível. Mas não podemos desanimar.

Temos de ler, reler, tresler, cotejar, comparar e manter nosso senso crítico livre, individual e criativo, mesmo que a pretensão e vaidade às vezes tomem conta da gente e nos botem a falar bonito e empolado demais nos botecos, restaurantes, festas, salões, academias e esquinas da vida. Cada um conta sua História e suas histórias. Memória é onde as coisas acontecem muitas vezes. Memórias inventadas estão na moda, mesclando verdades, mentiras, fatos, invenções, pessoas reais ou imaginárias e/ou pessoas reais com toques imaginários e o que mais o autor quiser. Há milênios estamos tentando saber o que é a verdade.


Por essas e por outras muitos estão preferindo biografias romanceadas, romances históricos ou com fundo histórico, em que, ao menos, sabem antes que vão encontrar apreciáveis doses de fantasia, invenções, ideologias e até diversão. Mas vamos adiante, a História, as histórias, as biografias, os romances e os shows de todos os artistas têm de continuar. Desde o tempo das fogueiras nós, humanos, não vivemos sem escrever, ouvir e contar histórias e Histórias.