quinta-feira, 10 de abril de 2014


10 de abril de 2014 | N° 17759
EDITORIAIS Zh

O CIDADÃO DESCONSIDERADO

Aaprovação pela Assembleia Legislativa de um generoso pacote de reajustes para servidores públicos evidenciou o pouco apreço dos administradores pelos contribuintes e pela responsabilidade fiscal. Primeiro, o Executivo, com o governador em campanha pela reeleição, encaminhou o detalhamento do impacto financeiro aos deputados apenas uma hora antes da votação.

Segundo, os parlamentares, pressionados pelas galerias lotadas de servidores aos gritos de Votem logo! Sem discurso!, sequer colocaram objeções ao projeto, nem mesmo entre os da oposição. No final, representantes tanto da situação quanto da oposição votaram pela aprovação, temendo reações na antevéspera da campanha eleitoral. Só não foi ouvido nem considerado o cidadão, sobre o qual recairá o impacto financeiro do pacote de bondades.

Chama a atenção que a aprovação dos reajustes, justificada pelo fato de precisar ocorrer seis meses antes das eleições, contrasta com os esforços do governo do Estado em Brasília para assegurar a renegociação da dívida com o Planalto. Não deixa de ser uma contradição que o Estado alegue não poder arcar com o custo dos débitos repassados à União e ao mesmo tempo assuma a iniciativa de propor reajustes escalonados cujo impacto anual deve alcançar R$ 1,5 bilhão a partir de 2017. Se o governo já vem apelando para os depósitos judiciais para cumprir seus compromissos atuais, como imaginar que possa deixar uma conta parcelada para a próxima administração nessas proporções?

Particularmente num Estado tão debilitado sob o ponto de vista das finanças, qualquer iniciativa com impacto num orçamento no qual receitas e despesas não fecham deveria ser antecedida por um debate mais amplo e mais objetivo. As justificativas não podem ser influenciadas por interesses que movem políticos da base de apoio ao governo ou da oposição num ano eleitoral, aos quais não interessa tomar decisões que impliquem o risco de perder votos. Dinheiro público é para atender aos direitos dos cidadãos, não para ser usado de forma demagógica, com o objetivo de fazer média com o funcionalismo.


O Estado precisa valorizar os servidores, o que implica remuneração adequada, mas com o cuidado de não prejudicar ainda mais suas finanças e, em consequência, a qualidade dos serviços públicos. Sem essa preocupação, o que vai ocorrer é uma autofagia cada vez mais acentuada da máquina administrativa e o risco de os próprios servidores ficarem sem embolsar o reajuste, justamente por falta de recursos no caixa do setor público.