10
de abril de 2014 | N° 17759
EDITORIAIS
ZH
Onde está a mentira?
Oex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva voltou a inspirar manchetes da imprensa com declarações
dadas esta semana, em meio a um cenário especialmente conturbado para o governo.
É natural que ex-ocupantes de cargos públicos se manifestem sobre questões políticas
controversas, desde que estejam dispostos a submeter suas afirmações também a
discordâncias.
No
caso das recentes declarações do petista, em entrevista a blogueiros simpáticos
ao governo, mereceu destaque a referência direta à imprensa. Disse o
entrevistado que os meios de comunicação no Brasil pioraram muito do ponto de
vista da neutralidade.
Afirmou
ainda o ex-presidente, numa referência às notícias sobre indícios de
irregularidades na Petrobras, que “a gente não pode permitir que, por omissão
nossa, as mentiras continuem prevalecendo”. Há uma evidente preocupação com a
divulgação de fatos desfavoráveis ao Executivo e que colocam em xeque as
exaltadas virtudes de gestora de sua sucessora. Ao se referir a inverdades, o
ex-presidente tem como alvo fatos que já vêm sendo investigados por Polícia
Federal, Ministério Público e Tribunal de Contas da União e serão objeto de
sindicância de CPI no Senado.
Observe-se
que, ao contrário do que defende, o ex-presidente sentou-se à mesa com pessoas
que não têm como oferecer a neutralidade reclamada. Seus ouvintes eram responsáveis
por blogs assumidamente governistas, muitos dos quais sustentados por verbas
oficiais. A manifestação reproduz o comportamento de líderes políticos que, ao
orientar a reação de seguidores a acusações, desqualificam o trabalho dos
jornalistas.
O ex-presidente
seria mais efetivo se contribuísse para que a presidente da República
esclarecesse por que, quando chefiava o conselho de administração da estatal,
teve informações sonegadas pelos que conduziam as tratativas para aquisição da
refinaria. Esta é uma das verdades que não podem ser sonegadas.