sábado, 12 de abril de 2014


12 de abril de 2014 | N° 17761
PAULO SANT’ANA

A dúvida

O Martinho da Vila tem um samba antológico que é desconhecido até pela maioria dos seus fãs.

Ele fala na letra que é grande a sua dúvida entre ir para São Paulo ou ficar no Rio de Janeiro nas suas idas e vindas entre as duas cidades, quando se apresenta em shows ou grava.

O estribilho do samba diz assim: “Não sei se vou/ não sei se fico/ se fico aqui/ ou se eu fico lá/ se estou lá tenho de vir/ se estou aqui/ eu tenho de voltar”.

Pensando nisso, noto que a criatura humana, em grande parte da sua vida, vive em dúvida.

Nós todos não sabemos se nos separamos de nossos cônjuges ou permanecemos casados. Por sinal, só não temos dúvida sobre uma coisa, se casamos ou não casamos, sempre entramos nessa fria sem duvidar.

Quem é que não tem dúvida sobre a profissão a abraçar? Minha filha, depois de cursar Veterinária por três longos e dispendiosos anos (sabe Deus o que gastei com sua faculdade particular), decidiu largar o curso e agora está há três anos estudando Psicologia.

Quando estamos num restaurante, nos assalta a dúvida sobre se vamos tomar vinho ou cerveja.

Ou até mesmo duvidamos entre comermos em casa ou irmos ao restaurante.

Há gente que tem dúvida séria se vai ficar só com os dois filhos que tem ou vai encomendar o terceiro à cegonha.

Casa ou apartamento, o que é que vamos comprar? Vou para a Unisinos ou escolho a PUC?

Tenho de entreter meus filhos e minha mulher, compro um gato ou um cachorro?

Dizem os filósofos modernos que a vida é feita de escolhas, mas se é assim a vida, então é um calvário porque não há nada que mais assalte a gente na vida do que a dúvida.

Acho que há só uma coisa em que não temos dúvida: é que duvidamos sempre e sobre tudo.

As mulheres decidem sempre que vão pintar os cabelos. Mas qual a cor?

Na sobremesa, vamos comer frutas ou doces?

Uso ou não uso a camisinha no sexo que vou fazer hoje à noite?


Minha mulher vai me perguntar certamente a qualquer momento se a traio. E, daí, respondo que não ou minto clamorosamente?