13
de abril de 2014 | N° 17762
PAULO
SANT’ANA
Brasil assassino
Seis
colegas aqui da RBS que assistiram ao Cirque du Soleil vieram me dizer que
sentiam raiva e impaciência pelos artistas que se apresentaram não errarem
nunca em seus números.
Gozado,
as pessoas torcem para que os artistas errem. Isso eu não sabia, fiquei
conhecendo agora.
Mas,
sendo assim, se os espectadores torcem para que os artistas errem, então foi
bom que esse circo que nos visita não tenha atiradores de facas contra alvos
humanos.
Este
número que citei agora é o mais eletrizante que vejo nos circos.
A
ONU divulgou agora que o Brasil concentra 11% de todos os homicídios havidos no
mundo. Dos 437 mil homicídios ocorridos em todo o mundo, mais de 50 mil
ocorreram no Brasil.
Resta
perquirir as razões por que o levantamento da ONU classifica assim o Brasil
como um dos países mais violentos do mundo. Evidentemente que a pressa pode
levar a que se atribua a severa violência brasileira à desigualdade
socioeconômica existente atualmente em nosso país.
Mas
eu desconfio de que a causa esteja distribuída por outros fatores concorrentes.
Entre os quais, a precariedade da segurança pública.
O
despreparo técnico e pessoal das polícias brasileiras é uma das subcausas mais
importantes na constatação desse triste recorde nacional.
Mas
uma causa central desse recorde é sem dúvida a impunidade. A grande maioria dos
assassinatos não é resolvida pela polícia, que sequer aponta nos inquéritos as
autorias dos delitos. Ultimamente é que veio melhorando esse índice.
E,
nos inquéritos que têm autoria apontada e levada à Justiça, os sentenciados se
beneficiam de forma alarmante com a precariedade fenomenal dos presídios, que
levam a que a Justiça não consiga assim aplicar as penas, sem falar na
recuperação penitenciária dos criminosos, que ostenta no Brasil o alarmante
índice zero.
Mata-se
no Brasil para roubar e mata-se por outros vários motivos banais.
Evidentemente,
os que matam o fazem porque têm certeza de que não serão punidos. E a maioria
não o é.
Há
um desprezo pela vida humana claramente mostrado aqui no Brasil.
E
incrivelmente o Brasil é um país muito religioso. Mas de que adianta ser
religioso, acreditar em Deus e em seguida sair pelas ruas matando os outros?