segunda-feira, 14 de abril de 2014


14 de abril de 2014 | N° 17763
L.F. VERISSIMO

Corruptelas

“Corrupção” vem do latim “rumpere”, ou romper, quebrar. Da mesma origem latina vem a palavra “rota”, através de “ruptura”, que virou “rupta” (um caminho aberto) no latim vulgar e está na origem do francês “route”, rota, e também de “rotina”. “Corrupção” e “rotina” vão se encontrar no Brasil moderno. A culpa não é do nosso caráter, é da etimologia

Quem busca as origens das palavras pode, muitas vezes, se ver atacado por elas, por trás. O francês que for procurar no Google, como eu, a origem do anglicismo “cocktail” esperando descobrir alguma coisa envolvendo o galo e seu rabo descobrirá que a palavra vem de “cocklay”, uma corruptela, na língua “creole” do sul dos Estados Unidos, de “coquetier”, um cálice para ovos, em francês.

O que não o impedirá de continuar pedindo “um coctel” sempre que quiser “um dry Martini” ou “um old fashioned” antes de comer “um biftek”, que vem do inglês “beefstake”, ou steak de “beef”, corrupção inglesa do francês “boeuf”.

O mesmo francês, enquanto joga golf acompanhado de “um caddie”, palavra que vem da Escócia mas só estava lá de passagem porque é uma adaptação do francês “cadet”, pode comentar que esteve no México e se maravilhou com as bandas de “mariachis”, sem saber que “mariachi” vem de “marriage”, pois era a música tocada nos casamentos durante a ocupação do México por quem? Pelos franceses.

O mesmo francês, quando usa “les jeans” pensando que são uma invenção americana não sabe que a palavra vem da pronuncia inglesa de “Gênes”, Genova em francês, pois era em Genova que fabricavam o tipo de tecido usado nas primeiras calças jeans.

E você quer saber de onde vem a palavra “sicofanta”, também muito em moda no Brasil de hoje? Antigamente queria dizer informante, ou, em grego, quem mostrava onde estavam os figos. “Sukon” era figo e “phantes”, o que mostra. Isto porque havia um animado tráfico de figos na época e os contrabandistas da fruta eram perseguidos pelas autoridades. Sempre o tráfico.


O que seria de nós sem o Google?