GUSTAVO
CERBASI
10/04/2014
07h00 - Atualizado em 10/04/2014 08h39
Vale a pena abandonar o Brasil?
Nunca
se falou tanto sobre planos de mudança de brasileiros para o exterior. O
turismo internacional, intenso nos últimos anos, apresentou aos viajantes o néctar
da civilidade. Como uma criança que compara seu lar ao do colega, descobrimos
como é a vida nos países em que impostos são efetivamente usados para o bem público,
em que o capitalismo é democrático e em que a educação é levada a sério.
Famílias
de diversos níveis de renda têm feito contas para jogar tudo para o alto, em
busca de uma vida menos sofrida, menos violenta, menos insegura e com mais
perspectivas para seus filhos. Não é uma decisão fácil, pois os componentes
desses planos não são apenas racionais.
Ao
fazer as contas, deduzimos que, com bem menos do que ganhamos aqui, vivemos
melhor lá. Há falhas nessas simulações. Poucos levam em conta que os impostos
sobre renda, investimentos e herança são maiores no exterior. Ao comparar preços
de imóveis, automóveis e gastos cotidianos, também é fácil esquecer os impostos
sobre o consumo – no exterior, eles não costumam estar embutidos nos preços. Mas
é fato: morar na América do Norte e em alguns países europeus sai mais barato
que no Brasil.
Deixando
as contas de lado, é preciso fazer uma análise qualitativa dos aspectos
emocionais da mudança. Sua família conseguiria viver muito tempo sem aquilo que
lhe é familiar? Amigos, parentes, hábitos de fim de semana, nossa música e
idioma, nosso histórico profissional e educacional? Não se deve desprezar que,
em outros países, enquadramo-nos apenas na categoria de latinos, sujeitos a
toda sorte de preconceitos – incluindo o bullying de nossos filhos na escola.
Morei
alguns meses no exterior e experimentei o impacto psicológico da distância. Foi
no Canadá que aprendi a gostar de MPB e feijoada, antes neutros em minha vida.
A
complexa decisão exige também que ponderemos entre o sentimento de fracasso ao
jogar a toalha e o dever cívico de engrossar o coro da mudança e construir o
futuro que hoje não temos. Se queremos boa educação para nossos filhos, sobram
aqui oportunidades de darmos exemplo para uma necessária transformação. Mas é preciso
contar menos com governos e agir mais como cidadãos.