14
de outubro de 2014 | N° 17952
ARTIGO
- JOSÉ ALBERTO WENZEL*
TRÊS PERGUNTAS E DUAS
RESPOSTAS
“O
que está acontecendo com a natureza?”, foi a primeira pergunta. Aos poucos, as
respostas foram chegando: mais consumo do que capacidade regeneradora, uso
indiscriminado de agrotóxicos, desumidificação das várzeas, desertificação dos
terrenos frágeis, tratamento insuficiente de dejetos e efluentes,
impermeabilização urbana, uso de energias não renováveis, produção de poluentes
atmosféricos, descaracterização dos nichos ecológicos, perda da biodiversidade
e tudo o mais na esteira do descompasso entre preservação e degradação.
“O
que e como podemos desenvolver e preservar ao mesmo tempo?”, foi a segunda
pergunta, que provocou o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável,
dos fóruns e conferências internacionais, do aparato de gestão pública e
privada ligada aos licenciamentos ambientais, da legislação preservacionista,
da reciclagem e das ações individuais e coletivas de cuidado ambiental.
“Por
que, sabendo de tudo isto, continuamos em desacordo com o processo natural?”,
pois, apesar das medidas tomadas e do império tecnológico, o aquecimento global
se fortalece, espécies vivas continuam sofrendo e desaparecendo, esgotos se
avolumam e, sobretudo, não há como esconder que nos percebemos crescentemente
insatisfeitos, para não dizer infelizes.
A
esta terceira questão, a resposta não está dada, contudo pistas se nos
apresentam: nos sentimos, ainda que secretamente, estrangeiros no próprio
planeta; com a morte, ou partimos para outra dimensão que não a terrena, ou
aqui simplesmente ao pó retornaremos. E, por outro lado, se formos
intrinsecamente constituintes do tecido natural, em processo não hierarquizado,
que agregadamente vibra e se correlaciona, estendendo-se ao longo do devir
experimental, sem distinguir morte e vida definitivas, mas em constante
reorganização significativa, muito além de apenas utilitarista e competitiva?
*Geólogo
e ex-secretário de Estado do Meio Ambiente
JOSÉ
ALBERTO WENZEL