22
de outubro de 2014 | N° 17960
MARTHA
MEDEIROS
Sem arrego
“Resmungos
e ranger de dentes não vão ajudar, as coisas mudaram e precisam ser assimiladas
o quanto antes, porque vieram para ficar. Resistir ao que de todo modo vai
acontecer seria falta de sabedoria e perda de tempo.”
Me
senti uma garotinha de cinco anos ao ler esse puxão de orelhas que havia sido
direcionado a mim. Em três linhas eu havia sido chamada de birrenta e burra.
Tranquei o choro.
Mas
logo me dei conta de que eu não tinha mais cinco anos e que não deveria levar a
reprimenda tão a sério, afinal, foi direcionada a mim, mas também a outros
tantos, e por alguém que nem me conhece direito. Resolvi achar graça e tocar
minha vida sem me perturbar com questões menores.
Mas
ele não se abalou com meu pouco-caso e seguiu com a artilharia pesada.
“Tenha
cuidado com esse cansaço que pesa sobre a alma, pois é ele que induz a
acreditar na ilusão de que os problemas poderiam ser resolvidos de uma tacada
só, com fórmulas mágicas. Isso não acontecerá de jeito nenhum.”
Rogando
praga. Insolente. Quem disse que estou com cansaço na alma, quem?
Resolvi
ler o que ele dizia sobre os outros signos. Realmente, ele não era um
representante da geração paz & amor, mas pegava mais leve com Áries,
Gêmeos, Libra. Comigo é que a rudeza imperava. Perseguição nítida.
A
solução era simples: deixar de dar ibope para as suas ralhações astrológicas.
Ignorar. Estava decidida a fazer isso a partir do dia seguinte. Porém, o novo
dia amanheceu, como sempre amanhece, e eu me vi espichando o olho para aquele
quadradinho minúsculo com três pequenas linhas onde cabia toda a ira do
universo contra mim. Foi então que compreendi como funciona a cabeça dos
leitores que odeiam certos colunistas do fundo do coração. Xingam, rosnam,
ofendem, mas não os abandonam nem sob decreto.
“Nada
que for feito intempestivamente ajudará a resolver coisa alguma. Certamente,
não será fácil conter os impulsos, mas, se você não se empenhar nesse sentido,
sua alma não merecerá ser chamada de humana. Contenha-se!”
Nunca
homem algum ousou mandar eu me conter, o abusado foi o primeiro – e ainda usou
ponto de exclamação!
Mas
se há algo que sobra em mim é resiliência. Se ele acha que vou bater em
retirada, engana-se. Vou continuar aqui, pode continuar me atacando, eu
aguento.
“Os
temores arraigados em sua alma (lá vem ele com essa história de alma outra vez)
têm sobre você o poder que você lhes outorgar, nem um pouco a mais do que isso.
Esses temores são fantasmas que assombram a perspectiva de progresso que se
encontra disponível”.
Entendi.
É tudo coisa da minha cabeça. Sou responsável pelas minhocas que coloco na
cabeça, e você é apenas um filósofo a serviço dessa reles criatura que teima em
não evoluir.
Não
me faltava mais nada. Humilhada pelo meu próprio horóscopo.