16
de outubro de 2014 | N° 17954
LUCIANO
ALABARSE
ELIS, A INESQUECÍVEL AAAAAA
Elis,
A Musical foi um acontecimento. Produção impecável, protagonista extraordinária
(Laila Garin). Aplausos eletrizantes e merecidos. Porto Alegre mostrou um
gigantesco amor por Elis, e isto não tem preço. A abordagem sobre sua participação
nas Olimpíadas do Exército foi certeira. Convocada (!) a cantar para os
militares, em plena ditadura, a Pimentinha soltou a voz em Não Tenha Medo, canção
de um Caetano exilado, gravada no disco Em Pleno Verão. Henfil, como boa parte
da esquerda brasileira, a crucificou.
Depois
tiveram de dar o braço a torcer. Cantando para milhares de milicos o refrão “Não
tenha medo não/nada é pior do que tudo”, a Baixinha arrebentou. A perspectiva
histórica do episódio só reforça minha vontade de ser independente em relação
aos nossos eternos talibãs de plantão.
Chorei
o espetáculo inteiro. Lembrei de Falso Brilhante, o melhor show a que já assisti
na vida. Lembrei que odiei Transversal do Tempo, seu show seguinte. Elis
vestida de Virgem Maria cantando Romaria, debochando de Caetano (a quem depois
pediu desculpas), músicos vestidos de operários. “Para quê?”, como diria o
Carlos Villalba.
No quesito das lutas democráticas, fez muito mais pelo Brasil
cantando O Bêbado e a Equilibrista, com uma flor no cabelo e sua voz impecável.
Lembrei sua morte inesperada, eu e meus amigos pichando os muros da cidade com
o slogan “Elis Vive”. Na parede da memória, essa lembrança é o quadro que dói
mais.
Como
a Cora faz com o Comendador, colecionei em cadernos matérias e revistas que
falavam dela. Defendi Elis. Briguei por Elis. Aplaudi Elis. Vi todos os seus
shows, comprei todos os seus discos, acompanhei toda sua carreira. Uma vez, num
almoço no Clube do Comércio, discutimos às gargalhadas por causa de Roberto
Carlos. Nem ela podia mexer com Roberto na minha frente. Ela entendeu. Uma
coisa é indiscutível: Elis Regina ainda é a maior cantora brasileira de todos
os tempos. E canta cada vez melhor.