Jaime
Cimenti
Afinidade, gentileza, culpa e reparação
O
conto do covarde (Editora Bertrand Brasil, 378 páginas, tradução de Sibele
Menegazzi), romance da escritora inglesa Vanessa Gebbie, foi considerado, não
por acaso, um dos melhores lançamentos de 2011. Com suas muitas qualidades, uma
passagem do romance venceu o prestigiado prêmio Novel in a year do jornal Daily
Telegraph. Autora de duas coletâneas de contos, muitos premiados, Vanessa vive
atualmente em Sussex, na Inglaterra. O conto do covarde, narrativa que trata de
afinidade, gentileza, culpa e reparação, é dessas histórias que permanecem na
mente dos leitores e que chegam, mesmo, a mudar a vida deles.
Mesclando
emoção, sensibilidade e técnica narrativa apurada, a autora faz o leitor se
sentir parte dos acontecimentos, rindo, chorando ou surpreendendo-se. O menino
Laddy Merridew foi enviado para morar com a avó em uma pequena comunidade do País
de Gales.
Lá,
inicia uma improvável amizade com Ianto Passchendaele Jenkins, o mendigo
contador de histórias da cidade que é guardião do legado da Gentil Clara, uma
antiga mina da região que explodiu há muitos anos e que deixou marcas nas gerações
futuras. Através das histórias do amigo, o menino é envolvido pelo passado da
cidade e pelos enigmas do presente.
Por
que Ícaro Evans, o professor de marcenaria, passa a maior parte da vida
tentando fazer folhas de madeira capazes de flutuar? Por que Tsc-Tsc Bevan, o
papa-defunto, quer encontrar um caminho com linha reta que corte a cidade? Por
que James Little, o cobrador de gás, cava sua horta à noite?
E
por que o limpador de janelas Judah Jones leva folhas de outono para uma capela
vazia? Esses e outros homens da cidade, bem como as mulheres que os geraram, as
que casaram com eles e as que lamentaram suas mortes estão na comovente e, por
vezes, bem-humorada narrativa, interligados pela tragédia de Gentil Clara e
pela misteriosa figura de Ianto Jenkins.
Lealdade,
perda, traição, amor, afinidade, sustos, gentileza, culpa e reparação são os
componentes da fascinante colcha de retalhos que brota das histórias contadas
pelo mendigo Jenkins, um covarde assumido, que será amigo de Laddy Merridew, um
menino assumidamente chorão.
Os
leitores vão gostar da perspicácia das palavras, que ressalta a doçura, e da
generosidade da narrativa, gerada a partir do sofrimento da perda.