30 de outubro de 2014 |
N° 17968
LUCIANO ALABARSE
PACTOS DE CONVIVÊNCIA
O Pintassilgo, romance vencedor
do Pulitzer, demonstra porque Donna Tartt é a nova queridinha da crítica
americana. Denso e arrebatador, reforça a constatação: bons livros são a chave
do paraíso. Por isso, a informação do Panorama Setorial da Cultura brasileira,
de que 42% dos brasileiros não consomem cultura regularmente, nunca leem, é
assustadora. Poderemos reverter essa realidade? Consumo cultural, sabemos,
passa por dinheiro no bolso. Mas não só. A pesquisa ressalta a falta de uma
política cultural consistente que atenda a nossas necessidades e diferenças.
Os Brasis, desde sempre, desafiam
seus gestores, e não há canetaço que esconda nossa indigência. A lei da
meia-entrada, por exemplo. É um tiro pela culatra. O preço do ingresso foi às
alturas, e essa lei tem tudo a ver.
Por que um produtor privado, sem
justa contrapartida, teria de arcar com a política pública de acessibilidade
cultural? Não tem. É uma imposição sem noção das reais dificuldades do setor.
Verbas públicas para projetos culturais, subsidiados ou não, não é favor. É
dever.
Dever, também, é arrumar a casa
depois das baixarias a que fomos submetidos durante a propaganda eleitoral.
Precisaremos de pactos de convivência para fazer o Brasil voltar ao normal. Ou
vamos fuzilar no paredão nossos adversários? Se não superarmos esse clima de
“bullying” partidário, perderemos todos. Vencidos e vencedores na eleição,
somos todos brasileiros. Ao invés de bater boca na internet e protagonizar
cenas de intolerância explícita, deveríamos agir e nos inspirar em gente como o
Borghettinho.
Ao injetar esperança no futuro de
crianças carentes, ele e sua Fábrica de Gaiteiros fazem o que nenhuma discussão
ideológica truculenta conseguiu ou conseguirá. Seja útil ao Brasil – como ele.
Defenda suas ideias, corra atrás dos seus sonhos, mas não haja como dono da
verdade. Eleição sem educação desmerece a democracia. Sensatez agora! Antes de
o verão chegar. Outubro ou nada.