sábado, 18 de outubro de 2014


19 de outubro de 2014 | N° 17957
MARCOS PIANGERS

A ditadura da beleza

Se existe mesmo uma ditadura da beleza, como normalmente feiosos e gordinhos gostam de dizer que existe, é sem dúvida o regime antidemocrático mais malsucedido da história das formas de governo. Em teoria, a ditadura da beleza é a opressão que algum ditador (suspeito que seja o Rodrigo Hilbert) exerce sobre a massa para que todos sigam o mesmo padrão de beleza. Esse ditador exigiria que a população fizesse abdominais pela manhã e corridas no intervalo do almoço. Todo mundo comendo linhaça. As pochetes estão proibidas, e o uso do crocs seria punido com prisão perpétua.

A propaganda da ditadura da beleza se espalharia em folhetos, outdoors, em revistas com o George Clooney na capa e em propagandas de cerveja, em que todo homem é sarado e toda mulher parece a Sabrina Sato. A saudação do ditador seria erguer o braço direito, flexionando-o para cima e para baixo, como que querendo mostrar que tem “muque”. E ele diria: “Mostra o muque pro papai!”. Esse seria o lema da ditadura da beleza, e a massa faria a mesma saudação, mostrando o muque pro papai.

Todos os homens teriam o corte de cabelo da seleção italiana e o governo implantaria o Bolsa Bisturi, para os menos favorecidos esteticamente. As pessoas seriam obrigadas a usar aquelas pulseiras que medem quantas calorias a gente gastou, e quem não batesse a meta diária iria pra prisão. Na carceragem encontraríamos pessoas muito feias, que foram banidas da sociedade por serem uma agressão à ditadura da beleza. O Fabrício Carpinejar estaria na solitária.

Em determinado momento de revolta, sem suportar mais supinos e barras de cereal, parte da população se revoltaria e passaria a fazer passeatas empunhando picanhas e biscoitos recheados de morango. “Abaixo a ditadura! Queremos mais gordura!”. Militantes de esquerda usariam camisetas vermelhas com a foto do Ed Motta de boina. “Hay de endurecer pero sin fazer malhaçón”.


E é claro que a ditadura da beleza, muito mais malhada e preparada para confrontos físicos, daria um pau nos revoltosos e manteria a malhação matinal obrigatória, o fim do Cheetos sabor requeijão e o GNT passando 24 horas na televisão. E isso, sim, seria viver debaixo de uma ditadura da beleza, meus caros. Portanto parem de reclamar e me alcancem o sorvete que está ali no freezer.