19
de outubro de 2014 | N° 17957
MARCOS
PIANGERS
A ditadura da
beleza
Se
existe mesmo uma ditadura da beleza, como normalmente feiosos e gordinhos
gostam de dizer que existe, é sem dúvida o regime antidemocrático mais
malsucedido da história das formas de governo. Em teoria, a ditadura da beleza
é a opressão que algum ditador (suspeito que seja o Rodrigo Hilbert) exerce
sobre a massa para que todos sigam o mesmo padrão de beleza. Esse ditador
exigiria que a população fizesse abdominais pela manhã e corridas no intervalo
do almoço. Todo mundo comendo linhaça. As pochetes estão proibidas, e o uso do
crocs seria punido com prisão perpétua.
A
propaganda da ditadura da beleza se espalharia em folhetos, outdoors, em
revistas com o George Clooney na capa e em propagandas de cerveja, em que todo
homem é sarado e toda mulher parece a Sabrina Sato. A saudação do ditador seria
erguer o braço direito, flexionando-o para cima e para baixo, como que querendo
mostrar que tem “muque”. E ele diria: “Mostra o muque pro papai!”. Esse seria o
lema da ditadura da beleza, e a massa faria a mesma saudação, mostrando o muque
pro papai.
Todos
os homens teriam o corte de cabelo da seleção italiana e o governo implantaria
o Bolsa Bisturi, para os menos favorecidos esteticamente. As pessoas seriam
obrigadas a usar aquelas pulseiras que medem quantas calorias a gente gastou, e
quem não batesse a meta diária iria pra prisão. Na carceragem encontraríamos
pessoas muito feias, que foram banidas da sociedade por serem uma agressão à
ditadura da beleza. O Fabrício Carpinejar estaria na solitária.
Em
determinado momento de revolta, sem suportar mais supinos e barras de cereal,
parte da população se revoltaria e passaria a fazer passeatas empunhando
picanhas e biscoitos recheados de morango. “Abaixo a ditadura! Queremos mais
gordura!”. Militantes de esquerda usariam camisetas vermelhas com a foto do Ed
Motta de boina. “Hay de endurecer pero sin fazer malhaçón”.
E é
claro que a ditadura da beleza, muito mais malhada e preparada para confrontos
físicos, daria um pau nos revoltosos e manteria a malhação matinal obrigatória,
o fim do Cheetos sabor requeijão e o GNT passando 24 horas na televisão. E
isso, sim, seria viver debaixo de uma ditadura da beleza, meus caros. Portanto
parem de reclamar e me alcancem o sorvete que está ali no freezer.