19
de outubro de 2014 | N° 17957
FABRÍCIO
CARPINEJAR
A MAIS CHATA DE
TODAS
Sei
que a chatice é mais nossa do que o outro. Só é chato quem não desperta a nossa
curiosidade.
O
chato é o que está interessado em nossa atenção, mas ele não nos interessa. Não
é um problema dele, mas nosso.
A
chatice é uma caridade que não deu certo. Não consegue conversar com a pessoa,
por mais que tente. Despende o máximo de energia somente para cumprimentar.
Entre
diversas espécies de chatos, nada supera a mulher que saiu de uma relação e só
fala disso no primeiro encontro. A que mostra mensagens que troca com o ex no
celular, pede opinião sobre o que deve fazer e cria uma histeria dos diálogos
passados e dos inbox no Facebook.
É
uma presença insuportavelmente incômoda.
Ela
abusa da boa vontade de qualquer pretendente para desabafar e procurar
cumplicidade.
Estão
sozinhos, mas o acompanhante segura vela igual. Vela para um defunto.
Ela
destrói o romance antes de começar. Com o que não seduz ninguém: a indiscrição.
Não
se fala de relacionamentos anteriores no primeiro encontro, eis uma regra de
etiqueta.
Transar
ou não transar é o de menos. O que se deve guardar na carteira: não se fala de
relacionamentos anteriores no primeiro encontro.
É
uma falta de educação e de elegância.
Ainda
não tem história junto, o mínimo de entendimento, e ela já deseja que ele
concorde com seu sofrimento. É como rubricar um abaixo-assinado sem ler o que
está escrito.
Não
há sentido em despejar intimidade e detalhes escabrosos do que já viveu logo de
saída. Nenhum tribunal é propício a flertes.
Uma
mulher que desanda a criticar o ex no primeiro encontro provoca medo, assusta
de verdade, parece psicopata.
Pois
quem conta seus segredos com facilidade não terá respeito algum com o outro.
Você,
que já fez isso, deixe agora de fazer, ouça meu conselho – que é de graça.
Reserve o momento para arejar a cabeça, para oferecer uma chance, para distrair
o coração, para curtir a prosa, a comida e o vinho.
Falar
do ex é anticoncepcional do charme. É a pílula do dia seguinte do amor.
Desfaz
o encanto. Pode vir vestida como uma princesa e será vista como megera. Pode
liderar a pesquisa de intenções de voto e será percebida como a rainha da
rejeição.
O
primeiro encontro não é o momento para reabrir o passado, e sim para tentar
descobrir um futuro diferente.
É de
uma grande antipatia confundir aquele sujeito que aceitou sair, que se arrumou
todo, com seu terapeuta, com sua cartomante, com seu conselheiro.
No
fim da noite, o homem se identificará mais com o ex, e ainda vai invejar a
inteligência dele por não estar mais ao seu lado.