sábado, 18 de outubro de 2014


19 de outubro de 2014 | N° 17957
FABRÍCIO CARPINEJAR

A MAIS CHATA DE TODAS

Sei que a chatice é mais nossa do que o outro. Só é chato quem não desperta a nossa curiosidade.

O chato é o que está interessado em nossa atenção, mas ele não nos interessa. Não é um problema dele, mas nosso.

A chatice é uma caridade que não deu certo. Não consegue conversar com a pessoa, por mais que tente. Despende o máximo de energia somente para cumprimentar.

Entre diversas espécies de chatos, nada supera a mulher que saiu de uma relação e só fala disso no primeiro encontro. A que mostra mensagens que troca com o ex no celular, pede opinião sobre o que deve fazer e cria uma histeria dos diálogos passados e dos inbox no Facebook.

É uma presença insuportavelmente incômoda.

Ela abusa da boa vontade de qualquer pretendente para desabafar e procurar cumplicidade.

Estão sozinhos, mas o acompanhante segura vela igual. Vela para um defunto.

Ela destrói o romance antes de começar. Com o que não seduz ninguém: a indiscrição.

Não se fala de relacionamentos anteriores no primeiro encontro, eis uma regra de etiqueta.

Transar ou não transar é o de menos. O que se deve guardar na carteira: não se fala de relacionamentos anteriores no primeiro encontro.

É uma falta de educação e de elegância.

Ainda não tem história junto, o mínimo de entendimento, e ela já deseja que ele concorde com seu sofrimento. É como rubricar um abaixo-assinado sem ler o que está escrito.

Não há sentido em despejar intimidade e detalhes escabrosos do que já viveu logo de saída. Nenhum tribunal é propício a flertes.

Uma mulher que desanda a criticar o ex no primeiro encontro provoca medo, assusta de verdade, parece psicopata.

Pois quem conta seus segredos com facilidade não terá respeito algum com o outro.

Você, que já fez isso, deixe agora de fazer, ouça meu conselho – que é de graça. Reserve o momento para arejar a cabeça, para oferecer uma chance, para distrair o coração, para curtir a prosa, a comida e o vinho.

Falar do ex é anticoncepcional do charme. É a pílula do dia seguinte do amor.

Desfaz o encanto. Pode vir vestida como uma princesa e será vista como megera. Pode liderar a pesquisa de intenções de voto e será percebida como a rainha da rejeição.

O primeiro encontro não é o momento para reabrir o passado, e sim para tentar descobrir um futuro diferente.

É de uma grande antipatia confundir aquele sujeito que aceitou sair, que se arrumou todo, com seu terapeuta, com sua cartomante, com seu conselheiro.


No fim da noite, o homem se identificará mais com o ex, e ainda vai invejar a inteligência dele por não estar mais ao seu lado.