21
de outubro de 2014 | N° 17959
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Tem a bênção, meu
filho!
Ele
pode ser um publicitário famoso, colecionar vários prêmios no currículo,
enfileirar leões de Cannes na estante, conduzir uma agência, mas se não tem o
reconhecimento dos pais nunca estará satisfeito. Ele pode ser um arquiteto
requisitado, ser chamado de Niemeyer, ganhar convites para idealizar museus no
mundo inteiro, mas se não tem o reconhecimento dos pais nunca estará
satisfeito.
Em
toda profissão, nunca estaremos satisfeitos sem receber o apoio paterno e
materno. É uma sina depender eternamente da atenção dos pais, mas não existe
jeito de escapar. Nenhum filho estará resolvido emocionalmente sem o carinho
dos pais.
O
sucesso, os troféus, a fama não são nada se não há um pai ou uma mãe para se
orgulhar daquilo que a gente faz.
O
que deve sofrer um bailarino que nunca teve seus pais na plateia. O que deve
sofrer um artista plástico que nunca contou com seus pais numa exposição. O que
deve sofrer um escritor que nunca foi folheado pelos seus pais.
Não
haverá aplauso que sacie o orfanato do coração de um filho. Não haverá láurea e
diploma que cale as paredes de uma casa onde os pais desprezam a vocação do
filho.
É
preferível ter um auditório vazio com os pais sentados na primeira fila a um
auditório lotado sem o rosto daqueles que nos conceberam.
Qualquer
filho que me lê concordará comigo.
Impossível
amadurecer o nosso sentimento sobre o assunto, é imutável. Não é problema para
ser levado para terapia, é angústia incurável. Queremos que eles sempre estejam
presentes, concordando ou não. Pois os pais foram a nossa primeira ovação,
nossos primeiros cumprimentos, nossa primeira torcida, formam o nosso início.
Não tem como excluí-los de nosso final.
Não
há maior carência do que adotar uma trajetória profissional com o desdém dos
nossos cuidadores, assumir um trajeto com o despeito familiar.
Ainda
que seja consagrado, o profissional será amargurado. Doloroso enfrentar o
boicote e se virar sozinho.
Sem
a compreensão dos pais, ele jamais vai confiar suficientemente em si, jamais
será receptivo à felicidade, jamais será agradecido ao que acumulou com seu
esforço. Faltará sempre uma mão antiga e conhecida no ombro da glória.
Nenhum
filho se perdoará diante do desprezo dos pais. Carregará a culpa insolúvel de
ter feito algo errado, de estar cometendo um crime, de não retribuir a educação
que recebeu, de desrespeitar os sonhos filiais.
O
que um filho deseja é o amparo do ventre bem depois do ventre, a paz que vem da
confiança, a bênção na testa quando sair de casa.
Não
suportará decepcionar seus pais. Não aguentará frustrá-los em silêncio. Por
mais que se arme um exército invencível de amigos, não se vence a oposição do
sangue.
A
desfeita é realmente incompreensível: aqueles mesmos pais corujas que não
deixavam de comparecer nas exibições da creche e da escola, agora incapazes de
abrir os braços para um aperto simbólico; aqueles mesmos pais babões que
retratavam a infância com fotos e vídeos, agora incapazes de abrir a boca para
um simples elogio; aqueles mesmos pais bajuladores que enchiam o pulmão de
alegria para falar o nosso nome, agora incapazes de suspirar de saudade.
É
uma dor sem idade. Uma ferida sem consolo.
E
como existem pais que jogam seus filhos crescidos para a indiferença, somente
porque discordam da opção profissional deles. Advogados que não aceitam filhos
cabeleireiros, médicos que não aceitam filhos malabaristas, engenheiros que não
aceitam filhos DJs. Como se houvesse uma função maior ou uma menor, uma
carteira profissional melhor do que a outra.
Pais
que erram a medida da força. Ao procurar demonstrar firmeza, desandam em intolerância.
Pais
que consideram que o filho desperdiçou sua vida sem ao menos entender o que ele
é e o que se tornou. Pais que julgam um disparate a ausência de estabilidade,
que lamentam a pouca ambição do herdeiro, que diz que ele foi preguiçoso e
decidiu pelo caminho mais fácil.
Pais
que abdicam de décadas ao lado do filho só para provar que têm razão, só para
dizer ao final que avisaram do fracasso.
Pais
que torcem para que tudo falhe e sua criança grande retorne ao lar, humilhada e
constrangida, e aprenda assim a dura lição.
A
frieza e o distanciamento não são lições, apenas geram preconceito e
arrogância.
A
única lição que funciona é o amor, e sua aceitação reverenciada da diferença, e
seu colo inadiável da ternura.
Se
você é pai, se você é mãe, reconheça a profissão do seu filho antes que seja
tarde. Ele está ansiosamente esperando.