quarta-feira, 29 de outubro de 2014


29 de outubro de 2014 | N° 17967
ARTIGOS - ELIS RADMAN*

ELEIÇÃO DE SARTORI: O SINTOMA DE UM COMPORTAMENTO

Desde as manifestações de junho de 2013, as pesquisas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião detectavam que o descrédito do eleitor gaúcho estava exacerbado em relação à política e aos políticos. O eleitor argumentava que não estava exigindo “qualidade dos serviços públicos”.

Ansiava pelo básico, “que os serviços apenas funcionassem”, que o governante “fizesse aquilo que precisava ser feito”. Para alguns, um raciocínio simplista, mas, para a grande parcela do eleitorado, a “tese da esperança”. A esperança que substituiu o pedido de mudança sustentava a premissa de que o posto de saúde e a escola funcionassem. Que o policial estivesse na rua e que a rodovia fosse segura.

A priori, o eleitor deposita a esperança em Ana Amélia, uma intenção de voto aliada ao receio de que a candidata “não dê conta de fazer o que precisa ser feito”. A campanha de Sartori trabalha, simultaneamente, dois conceitos: “o do político” e “o da política”. Mostra os atributos do candidato e sua capacidade de gestão e conclama o eleitor para união com a tese do “Meu partido é o Rio Grande”. Os testes deste conceito em maio mostravam 28% de aceitação, e em setembro alcançou um patamar de 65% de aprovação.

A campanha entra no “cerne da questão”, nos anseios e demandas dos eleitores. Apresenta um político que diz que “faz sem prometer”, um político que para o eleitor é “gente como a gente”. O eleitor tem a percepção de que Sartori “entende a prioridade”, entende das “pequenas grandes coisas”.

Com uma campanha alinhada ao comportamento e às demandas da maior parte da população, Sartori ganha “salvo-conduto” dos eleitores. Pode se permitir “fazer brincadeiras fora de contexto” ou até mesmo não apresentar propostas. Toda vez que Tarso Genro afirmava que “fazer os serviços públicos funcionarem não era uma proposta”, automaticamente renovava ou ampliava a rejeição do eleitor, que avaliava seus serviços como “regular” e tinha a percepção crítica em relação a sua gestão.

Diante desse contexto, o destino do voto em Sartori foi uma resposta a uma campanha alinhada com os anseios da população, que esperava um candidato que se comprometesse em “fazer aquilo que precisa ser feito”, ou seja, em fazer os “serviços públicos funcionarem”. Este é o desafio posto pelo eleitor e o tema de casa do próximo governo!


*MESTRE EM CIÊNCIA POLÍTICA (UFRGS), DIRETORA DO IPO – INSTITUTO PESQUISAS DE OPINIÃO