30 de outubro de 2014 |
N° 17968
MÁRIO CORSO
GPS gaudério
Adoro novidades. Sabendo disso,
uns amigos que desenvolvem aplicativos me deram para testar o GPS gaudério.
Para quem ainda não sabe, GPS é um aparelho, parecido a um telefone celular, ou
instalado em um, que fornece a rota por onde passamos. Além da tela com o mapa,
ele fala avisando das manobras que temos que fazer para chegar a um objetivo.
O GPS gaudério é mais que um
aparelho e uma ajuda, é uma presença dentro do carro. A Gabriela, minha antiga
voz, era uma copilota chocha, tinha o entusiasmo de um tropeiro de lesma. Já o
Fagundes, como ele se apresenta, tem uma voz que me lembra o saudoso Noel
Guarany. Soa forte, decidido, é quase um comando onde deveria ser uma sugestão.
Afrouxa o trote, que tem pardal a
menos de légua – é ele falar e já vamos tirando o pé do acelerador. Para quem
não é do campo, ele pode soar rude. Esses tempos, fiz dois erros em sequência e
ele me saiu com: Vou ter que recalcular a rota de novo, animal! Para pra tomar
um mate. Tu tá dormindo? É duro, grosso, mas alerta o índio sonolento e evita o
pior.
Claro, eu programei uma fala para
homem, se programares o Fagundes para uma mulher dirigir é outra fineza. A
minha filha fez o mesmo e ele disse: Oh, guria! Assim vamos dá mais volta que
bolacha em boca de velho!
As vantagens são inúmeras, qual
outro aparelho que indica postos que têm água quente para reabastecer a
térmica? Não só aponta todas as churrascarias por onde passamos como até
palpita, às vezes um pouco preconceituosamente, é verdade, mas com argumento.
Exemplo: Esta diz que é churrascaria, mas serve pizza também, sei não...
Dentro da cidade é perfeito.
Apenas tem que se acostumar que ele toca o Hino Rio-Grandense quando passa na
frente do Laçador, do monumento ao Bento Goncalves e perto do Parque da
Harmonia. Às vezes, de inopino, num engarrafamento, declama uns versos do Jayme
Caetano Braun pra modo de não perdermos a paciência com as agruras duma
paisagem sem campo, sem verde, sem horizonte.
Sempre tem bons conselhos. Quando
sente que estamos muito rápidos, nos pergunta: Que apuro é esse, cuera? Esses
tempos, buzinei forte na frente de um hospital e ele me saiu com esta: Cem
cavalos no motor e um na direção!
O que teria que ser corrigido é
uma certa fixação por Uruguaiana. Cada manhã, eu ligo o carro e ouço: Tu estás
a 624 quilômetros de Uruguaiana. Parece que o destino primordial, o marco zero
no qual esse GPS se baseia, é o obelisco de Uruguaiana.
Esses dias, indo para Garopaba,
indiquei o nome da cidade e ele setou Uruguaiana. Corrigi, ele desconfigurou e
me remeteu de novo para Uruguaiana. Na terceira, desliguei o xiru. Sei a
estrada, era pelas dicas. Não é que, quando estou sobre a ponte do Mampituba, o
GPS se liga sozinho e me diz com voz preocupada: Tu tá saindo do país, tchê!