22
de dezembro de 2014 | N° 18021
ARTIGO
- JOSÉ CARLOS STURZA DE MORAES*
O PAQUISTÃO É AQUI
O
Nobel da Paz 2014 não assegurou o direito à vida para as crianças do Paquistão,
nem na escola que escancara o genocídio, nem no país como um todo. Indignemo-nos,
pois uma vida ceifada em qualquer lugar do mundo é uma vida a menos. Mas
conflitos armados não se resumem a países em guerras internacionais ou civis
declaradas.
Nossa
distância em relação ao Paquistão não é tão grande assim. Temos nossos
extremismos. Em relação à educação, estamos na 88ª posição no mesmo índice em
que o Paquistão aparece na 113ª, entre 127 países analisados pela Unesco, em 2011.
Temos nossas guerras cotidianas acontecendo e impedindo o acesso, a
aprendizagem e a permanência na escola. Professores, pais e principalmente
estudantes sofrem violências constantes.
No
dia 15 de dezembro, em Brasília, participamos de um encontro para avaliação das
Caravanas de Educação em Direitos Humanos no Brasil. Relatos de extermínio de
crianças e adolescentes, de violência do tráfico e policial, inclusive com ameaças
de agentes públicos a familiares de vítimas, fizeram parte da normalidade dos
relatos, de Norte a Sul.
Parte
dessa realidade é conhecida, revela-se nas faltas à escola nos momentos de
conflitos urbanos das “guerras” decorrentes do tráfico de drogas, das violências
familiares diversas, e de conflitos rurais por terra. Mas, além das faltas,
existe o abandono escolar e a morte por assassinato de crianças e adolescentes
em nosso país.
Existe
um processo praticamente de extermínio, especialmente em relação às populações
negras e indígenas, que é denunciado pela existência de um indicador específico
para medir mortes. Trata-se do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA). Por
quê? Porque, apenas nos municípios com 100 mil ou mais habitantes, a morte
natural é responsável por 87,5% das mortes totais, mas na faixa dos 12 aos 18
anos apenas 30,5% das mortes são naturais.
Segundo
o Ministério da Saúde, 45,2% das mortes adolescentes são por assassinato e 18,8%
por acidentes (principalmente trânsito). Ou seja, em nosso país, em termos
absolutos, adolescentes morrem mais de causas externas do que naturais. Morrem
principalmente assassinados.
*Coordenador
do Projeto Protagonismo de Crianças e Adolescentes (Amencar)