17
de dezembro de 2014 | N° 18016
ARTIGO
- PAULO SEIXAS*
UM GESTO MUITO ALÉM DAS PALAVRAS
Importa,
todavia, refletir sobre a essência do singelo acontecimento. O aspecto que não
deve passar despercebido seria a densidade humana de um gesto, muito além das
palavras. Gesto profundamente humano e amoroso que, em última análise, traduz a
capacidade de se identificar com o sofrimento do outro.
Com
um zelo que poderíamos dizer maternal, Francisco debruça-se sobre a angústia de
uma criança aflita e, nesse momento, todo o universo da lógica ou a obsessão
com afirmações intelectualmente corretas cedem ante o impulso do amor, da
solidariedade e da compaixão. O grito do sofredor torna-se uma convocação. Palavras
bonitas e ajustadas do ponto de vista da ortodoxia soam vazias e perdem
inteiramente seu sentido.
Nesse
momento, Francisco não é o Papa preocupado com a repercussão das suas palavras,
mas um homem sensibilizado diante da angústia de uma criança que precisa ser
amparada, consolada e compreendida. Uma questão maior encobre todas as outras: enxugar
as lágrimas de alguém que sofre.
A
cena nos remete a algo profundamente familiar e nos permite associar com a
dedicação de um pai, sobretudo de uma mãe, incondicionalmente comprometidos com
a amorosa missão de acolher e consolar.
O
gesto de Francisco transforma as palavras em acalanto e, nesse contexto, o que
existe é a pura expressão do afeto e da compaixão.
*Médico
psiquiatra