ODILO
PEDRO SCHERER
Natal, a festa do
encontro
Quem
deseja encontrar Deus já não precisa mais percorrer caminhos de incerteza, como
a caminhar no escuro. Pode aproximar-se de Jesus Cristo
Antes
do Natal, houve muitos encontros nas empresas, escolas e grupos diversos.
Muitas pessoas mobilizaram-se em iniciativas culturais ou de solidariedade,
promovendo o "Natal das crianças", dos pobres, dos velhinhos, dos presidiários.
E nas igrejas, encontros para rezar, ensaiar e preparar-se para as celebrações
natalinas.
Quantos
encontros em família! Uma força irresistível leva a se encontrar e comemorar
juntos: não dá para festejar o Natal sozinho pois seria um triste Natal.
Acontecem
também outros encontros, bem menos místicos: nos shoppings ou na rua 25 de
Março, na fila para pagar as compras, no Ibirapuera, para ver a "árvore de
Natal", nas avenidas, parados no trânsito, nas rodoviárias e aeroportos,
de mala na mão, para encontrar os parentes lá longe.
O
Natal é mesmo a festa dos encontros. Um fenômeno tipicamente humano, afinal, o
homem é sociável e, geralmente, gosta de se encontrar para festejar momentos
marcantes em sua vida. Verdade. Mas que "momento marcante" é esse, o
Natal? Por que motivo, tantos e tão diversos encontros?
É
inegável que no Natal a febre dos encontros é contagiante! As motivações podem
ser muitas, mas desejo falar do motivo de fundo, aquele que deu origem a toda
essa vontade de encontrar-se no Natal. O homem traz dentro de si um enorme
desejo de superação e de ir além de seus limites.
A
conquista de novos espaços geográficos, científicos, astronômicos,
cibernéticos, culturais, éticos é apenas um sinal disso. Onde ele quer chegar?
Desde o princípio, ele foi tentado a ser seu deus: "Sereis como
deuses". Foi esta a grande ambição de Adão e Eva, enganados pela serpente
tentadora no paraíso. Não deu certo e se viram cercados de limites e
fragilidades.
Mas
o desejo humano de alcançar Deus permaneceu inalterado e, só no encontro com
Ele, o coração inquieto do homem sossega: "nosso coração, Senhor, não
descansa até que não repouse em ti", diz Santo Agostinho. No nascimento de
Jesus Cristo, Deus veio ao encontro do homem, de uma maneira inimaginável. O Filho
de Deus se fez homem, veio ser um de nós, sem deixar de ser o que foi desde
sempre.
No
nascimento de Jesus, comemorado no Natal, aconteceu o grande encontro. Por si
só, o homem não ultrapassa o limite do humano: foi Deus quem lhe estendeu a mão
e veio ao seu encontro.
No
Filho, enviado ao mundo, Deus uniu a si a humanidade e lhe deu a possibilidade
de realizar seu sonho. E quem deseja encontrar Deus, já não precisa mais
percorrer caminhos de incerteza, como a caminhar no escuro. Pode aproximar-se
de Jesus, "rosto humano de Deus e rosto divino do homem".
O
nascimento de Jesus, desde logo, foi suscitando encontros: os pastores dos
campos de Belém acorreram, curiosos, para ver o recém-nascido; os "reis
magos", vindos de longe, prostraram-se diante dele e o homenageiam com
seus presentes.
Também
os que se sentiram incomodados com esse menino mobilizaram-se e promoveram
encontros destruidores de vidas inocentes. A vida inteira de Jesus foi feita de
encontros salvadores e irradiadores dessa nova presença de Deus entre os
homens.
E o
Natal nunca mais deixou de ser a festa do encontro. Que seja assim também em
2014! Bons encontros, feliz Natal!
CARDEAL
DOM ODILO PEDRO SCHERER, 65, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana
(Roma), é arcebispo de São Paulo