sábado, 27 de dezembro de 2014


28 de dezembro de 2014 | N° 18026
L. F. VERISSIMO

Modelos

Não existe gente que tem medo de palhaço? Pois eu tenho medo de modelos. Sou provavelmente o único homem no mundo que, se um dia ficasse frente a frente com a Gisele Bündchen, sairia correndo. Não sei qual é a origem dessa fobia. Não me lembro de ter sido assustado por uma modelo, quando criança. Nenhuma modelo me fez mal, ainda. Mas elas simplesmente me apavoram. É aquele ar que elas têm.

É isso. Aquele ar de superioridade, de desprezo. Eu sei que não é comigo, que elas desprezam toda a humanidade. Mas fico apavorado assim mesmo. Uma vez assisti a um desfile de modas e, depois da passagem da primeira modelo, comecei a suar frio. Ela tinha me olhado nos olhos.

Olhado como se fosse cuspir na minha cabeça. E as outras fizeram a mesma coisa. Juro. Pedi a quem me acompanhava: “Me tirem daqui!”. Não entenderam. Perguntaram o que havia. Respondi que estava cansado de ser menosprezado daquele jeito. O desfile era contra mim! Acabei me asilando no banheiro dos homens, onde eu sabia que elas não entrariam.

Procurei ajuda psiquiátrica para o meu problema. O doutor se surpreendeu: Mas elas são tão bonitas! – É por isso, doutor. São bonitas demais. Altas demais. Tudo nelas é um exagero, uma provocação. Uma espécie de prepotência.

– Todo homem sonha em possuir uma modelo. – Meus sonhos com modelos sempre terminam da mesma maneira: eu sendo pisoteado por várias, com saltos altos. – Vou lhe receitar um calmante...

– Calmante, para minar minhas defesas, doutor? E se elas me atacarem? – O que faz você pensar que as modelos vão querer atacar você?

– E eu sei? É por isso que estou aqui!

Pouca gente sabe que, antes de entrarem na passarela, as modelos chupam um limão, para desfilar com a correta expressão de desprezo, beirando o nojo, pelos seus inferiores, começando por mim. Nunca sorriem. Alimentam-se de pequenos passarinhos, pois não têm um sistema gastrointestinal como o nosso. Só mudam de dieta na lua cheia, quando comem um homem inteiro. Aquela maneira de caminhar cruzando as pernas que só modelos têm é uma amostra do que são capazes.


Eu sei, eu sei. Meu pavor de modelos é uma fobia irracional como qualquer outra. O que não quer dizer que não seja justificado. A ameaça só existe na minha imaginação e tenho tentado vencer meu medo. Mas não tem sido fácil. Por exemplo: acabo de saber que neste exato momento está havendo um simpósio internacional de modelos, em Milão, e que o tema do simpósio é o meu pênis!