28
de dezembro de 2014 | N° 18026
L.
F. VERISSIMO
Modelos
Não
existe gente que tem medo de palhaço? Pois eu tenho medo de modelos. Sou
provavelmente o único homem no mundo que, se um dia ficasse frente a frente com
a Gisele Bündchen, sairia correndo. Não sei qual é a origem dessa fobia. Não me
lembro de ter sido assustado por uma modelo, quando criança. Nenhuma modelo me
fez mal, ainda. Mas elas simplesmente me apavoram. É aquele ar que elas têm.
É
isso. Aquele ar de superioridade, de desprezo. Eu sei que não é comigo, que
elas desprezam toda a humanidade. Mas fico apavorado assim mesmo. Uma vez
assisti a um desfile de modas e, depois da passagem da primeira modelo, comecei
a suar frio. Ela tinha me olhado nos olhos.
Olhado
como se fosse cuspir na minha cabeça. E as outras fizeram a mesma coisa. Juro.
Pedi a quem me acompanhava: “Me tirem daqui!”. Não entenderam. Perguntaram o
que havia. Respondi que estava cansado de ser menosprezado daquele jeito. O
desfile era contra mim! Acabei me asilando no banheiro dos homens, onde eu
sabia que elas não entrariam.
Procurei
ajuda psiquiátrica para o meu problema. O doutor se surpreendeu: Mas elas são
tão bonitas! – É por isso, doutor. São bonitas demais. Altas demais. Tudo nelas
é um exagero, uma provocação. Uma espécie de prepotência.
–
Todo homem sonha em possuir uma modelo. – Meus sonhos com modelos sempre
terminam da mesma maneira: eu sendo pisoteado por várias, com saltos altos. –
Vou lhe receitar um calmante...
–
Calmante, para minar minhas defesas, doutor? E se elas me atacarem? – O que faz
você pensar que as modelos vão querer atacar você?
– E
eu sei? É por isso que estou aqui!
Pouca
gente sabe que, antes de entrarem na passarela, as modelos chupam um limão,
para desfilar com a correta expressão de desprezo, beirando o nojo, pelos seus
inferiores, começando por mim. Nunca sorriem. Alimentam-se de pequenos
passarinhos, pois não têm um sistema gastrointestinal como o nosso. Só mudam de
dieta na lua cheia, quando comem um homem inteiro. Aquela maneira de caminhar
cruzando as pernas que só modelos têm é uma amostra do que são capazes.
Eu
sei, eu sei. Meu pavor de modelos é uma fobia irracional como qualquer outra. O
que não quer dizer que não seja justificado. A ameaça só existe na minha
imaginação e tenho tentado vencer meu medo. Mas não tem sido fácil. Por
exemplo: acabo de saber que neste exato momento está havendo um simpósio internacional
de modelos, em Milão, e que o tema do simpósio é o meu pênis!