26
de dezembro de 2014 | N° 18024
ARTIGO
- CARLOS FERNANDO SOUTO*
MORAL DERRETIDA, ÉTICA
INEXISTENTE
O
presidente do TCU disse dias atrás que o escândalo da Petrobras é o maior caso
de corrupção que já tramitou na história do Tribunal. Um procurador federal
afirmou que não se está dando conta de defender a República dos, palavras dele,
ratos que estão corroendo suas estruturas e que vamos ter um escândalo de
corrupção ainda maior do que o da Petrobras. E será no BNDES.
Ministro
do STF asseverou recentemente: “Como alguém, alguma pessoa jurídica que pega
empréstimo nos bancos públicos a juros subsidiados (...) para promover emprego
e desenvolvimento social da nação e, aí, parte disso vira aplicação em campanha
eleitoral. (...) Não há ilegalidade se (o valor) estiver dentro dos 2% sobre o
faturamento. Mas é um escândalo”. Uma empresa brasileira, cliente do BNDES,
doou R$ 353 milhões na última eleição.
Ainda
sobre a Petrobras, um gerente comprometeu-se, via acordo, a devolver US$ 100
milhões desviados. Uma outra gerente informou a diretoria da empresa, por
vários anos, de que algo havia de errado. Pagamentos de R$ 58 milhões foram
efetuados para serviços que nunca foram prestados. Custos de R$ 4 bilhões a
serem pagos pela Petrobras viraram R$ 18 bilhões num passe de mágica. Erros de
orçamentos em 15% eram corriqueiros. E assim vai. A despeito dos incontáveis
avisos, rigorosamente nada foi feito para se corrigir.
A
lista é maior, mas não há espaço. Mas precisa mais?
Como
pode? Como pode ninguém, espontaneamente, se responsabilizar em nome do governo
brasileiro e pedir desculpas à população? Como pode não haver uma única
renúncia que seja de algum cargo de alto escalão da República? Em que país nos
tornamos?
Não
deveríamos ter apenas soluções jurídicas para esses ilimitados casos de
corrupção, eufemisticamente denominados de malfeitos. Deveríamos, antes, ter
repercussões espontâneas e individuais minimamente aceitáveis a partir de um
padrão de ética rigoroso; que essa turma que tomou conta do público tivesse ao
menos vergonha e medo – arrependimento talvez seja pedir demais – do que tem
feito e das consequências geradas.
Mas
não. O governo brasileiro, com seu silêncio ensurdecedor, assiste à moral
derreter no que sobrou do Brasil. Afinal, onde foi parar o prazer pelas boas
ações?
*Advogado
- CARLOS FERNANDO SOUTO