23
de dezembro de 2014 | N° 18022
EDITORIAL
ZH
HORA DA VIRADA
As
novas denúncias sobre as omissões do comando da Petrobras tornam insustentável
a permanência da presidente da empresa.
Tornou-se
insustentável a posição da presidente da Petrobras, cuja reputação foi abalada
de forma irremediável pelas mais recentes denúncias de uma ex-executiva da
estatal. Resta à presidente da República, em nome das tentativas de preservação
do que restou da imagem da empresa, a substituição da senhora Graça Foster.
É a
única alternativa para a agonia de alguém que se mostrou incapaz de agir com
rigor, quando alertada dos desmandos agora sob investigação. Sua permanência no
cargo é constrangedora, depois das informações da ex-gerente Venina Velosa da
Fonseca em entrevista ao Fantástico, no último domingo. A funcionária afastada
forneceu detalhes dos e-mails que passou a encaminhar a superiores, em 2008,
entre os quais Graça Foster, com quem assegura ter participado de uma reunião
para tratar de indícios de superfaturamento de obras, desvio de verbas e outras
irregularidades.
A
ex-gerente foi categórica ao afirmar que a direção da Petrobras tratou com
indiferença seus alertas. A denunciante chegou ao ponto de convocar outros
servidores para que reforcem o que ela diz saber. Não foi a primeira vez que
Venina falou sobre os comunicados que enviou à direção. Mas esta é a sua mais
detalhada entrevista, com datas, revelação de conteúdo dos e-mails e das conversas
e até as represálias que teria sofrido a partir do momento em que decidiu
contar tudo.
Há
na trajetória da ex-gerente um componente a que recorrem os que pretendem
desqualificá-la. Ela é apontada como participante do processo de aprovação dos
pagamentos de aditivos a obras da Petrobras, conduzidas por empreiteiras
investigadas. Também as relações do marido dela com a empresa, como prestador
de serviços, precisam ser melhor esclarecidas. Mas nada disso, nem mesmo o
ressentimento por ter sido afastada do cargo, diminui suas denúncias. Ao
contrário, como circulava entre o alto escalão e conhecia os labirintos da
Petrobras, Venina está habilitada a dizer o que sabe. Amplia-se, com suas
informações, a possibilidade de outros funcionários reforçarem as denúncias.
Ontem,
a presidente da República saiu em socorro de Graça Foster, por considerá-la uma
pessoa ética. Não há até agora nada que envolva diretamente a presidente da
empresa em delitos, mas são muitos os indícios de que foi leniente com os atos
escusos de seus subalternos. A presidente da República tem a chance de
interromper os danos à imagem da Petrobras e, às vésperas da posse para o
segundo mandato, trocar o comando da estatal. Adiar a decisão é apenas
prolongar um desgaste para o governo, a empresa e o país.