21
de janeiro de 2015 | N° 18049
ARTIGOS
DESGOVERNADO
Só
tens agora os carinhos do motor”.
Paralelas
(Belchior)
Acima
dos chassis, ao largo da lei, este é o “lugar” onde o comportamento de vários
motoristas se desfigura. É sombrio, perigoso, o que não os impede de rumarem
(às pressas) para lá. Um péssimo comportamento ao volante, uma infinidade de
armadilhas viárias, e temos um massacre que flerta, diariamente, com o
dantesco. No amazônico país do saneamento precário, foi a “epidemia rodoviária”
que atingiu o topo: a mais letal das moléstias infantis. Pior, não há um só
beco ou ruela imune à infestação dos veículos transmissores.
Enquanto
o projeto nacional de motorização plena regulava o foco tão somente na direção
das montadoras e bombas de combustíveis, na rua em frente eclodia essa cultura.
Agigantou- se desgovernada e assustadoramente disforme, até que, em poucas
décadas, tomou o volante para si. À proporção que a frota explodiu, um
inventário incalculável de incoerências avançou sobre o trânsito feito uma onda
avassaladora. Perdemos.
Do
outro lado da perplexidade, reside alguém capaz de impactar esses índices mesmo
antes de girar uma chave de ignição ou atravessar uma rua. No entanto, bem
distante de qualquer matriz curricular, a teoria de educação para o trânsito,
da pré- escola ao Ensino Médio, ainda hiberna – alheia às ruidosas sirenes de
resgate, por certo. Esse modelo anacrônico, transformado em oráculo por
celerados e irrefreáveis pés de chumbo, tem de ser rebocado da via. Agentes vão
multá-los, prendê-los, mas, o conceito, creia, não vai parar de (de)formar
seguidores.
O
novo norte magnético da indústria automobilística aponta para uma troca gradual
de certas decisões humanas por sensores, durante o processo de condução de
veículos. Complexo? A transposição dessa espiral de negligências para um
trânsito ético e seguro, incólume, isto será verdadeiramente complexo.
Outro
dia, vi uma velha placa de trânsito tomada por ferrugem, pichações e marcas de
tiros. De alguma forma, prevaleceu naquele acostamento. Havia de fato algo de
indestrutível em seus dizeres parcialmente encobertos: “Motorista ‘preserve’ a
vida”. Antes que algum sensor o faça.
Professor,
especialista em segurança pública
MARCO
AURÉLIO RIBEIRO DE OLIVEIRA