sexta-feira, 23 de janeiro de 2015


23 de janeiro de 2015 | N° 18051
EDITORIAL ZH

OPÇÃO QUESTIONÁVEL

A presidente Dilma Rousseff pensou pequeno ao optar pela posse do seu colega Evo Morales, em vez de ir a Davos para participar do Fórum Econômico Mundial.

Ainda que o Brasil não tenha muito o que apresentar no Fórum Econômico Mundial, em Davos, além do programa de ajustes da economia que recém começa a ser implementado, a presidente Dilma Rousseff pensou pequeno ao optar pela viagem à Bolívia para acompanhar a posse do seu colega Evo Morales, que vai para o terceiro mandato na presidência do país. Ao optar pelo agrado aos movimentos de esquerda e seus simpatizantes, que afinal foram importantes na sua própria reeleição, a presidente deixou em segundo plano um evento imprescindível para o Brasil reconquistar credibilidade junto aos investidores internacionais.

Coube ao ministro Joa- quim Levy, da Fazenda, apresentar na vitrine da economia mundial os planos do país para superar a crise e retomar o caminho do desenvolvimento. Neste sentido, cabe reconhecer que o ministro é a pessoa certa no lugar certo, até mesmo porque acaba de anunciar medidas amargas para os brasileiros mas simpáticas à elite econômica mundial. Tal movimento, porém, seria melhor compreendido e aceito pelos estrangeiros se a própria presidente estivesse presente em Davos, assinando como fiadora do processo.

Depois de ouvir lideranças do seu partido, Dilma preferiu optar pela Bolívia e deu um sinal claro de que tentará compatibilizar compromissos políticos e ideológicos com a necessidade de implementar as medidas que já estão sendo anunciadas por sua equipe econômica. Só que essa ambiguidade não engana ninguém: as decisões tomadas pelo ministro da Fazenda são também da presidente e, cedo ou tarde, ela terá que assumir essa responsabilidade.

Ainda que a imagem do ministro da Fazenda seja associada ao ajuste fiscal num primeiro momento, a política econômica é do governo Dilma – para o bem e para o mal. Claro que a integração sul-americana e as boas relações com a Bolívia, que pode ser um parceiro estratégico decisivo neste momento de crise energética em nosso país, também são pontos importantes da agenda presidencial.


Mas, considerando- se que o Brasil ainda não superou o risco de perder o grau de investimento por parte das agências de rating, seria mais sensato que o governo brasileiro centrasse sua atenção e suas energias em Davos, onde estão as lideranças políticas e econômicas que efetivamente influenciam o cenário internacional.