BERNARDO
MELLO FRANCO
A carteira de Gabrielli
BRASÍLIA
- Se José Sérgio Gabrielli fosse uma empresa, seria possível dizer que suas ações
despencaram tanto quanto as da Petrobras.
Durante
sete anos, o economista filiado ao PT pontificou como presidente da estatal e
um dos homens mais influentes da era Lula. Conduziu a "maior capitalização
da história". Anunciou a descoberta do pré-sal. Proclamou a autossuficiência
do país na produção de petróleo.
Ao
deixar o cargo, em fevereiro de 2012, era visto como o futuro governador da
Bahia. Instalou-se no secretariado do petista Jaques Wagner e começou a
monitorar o relógio. Sua eleição seria apenas questão de tempo: dois anos e
oito meses.
O
plano foi implodido pela Operação Lava Jato, que encontrou desvios bilionários
na Petrobras sob sua gestão. Gabrielli foi responsabilizado por um dos maiores
prejuízos em seis décadas de empresa. Três de seu diretores foram presos. O
Ministério Público o processou por improbidade administrativa e pediu o
bloqueio de seus bens.
A
cotação do petista entrou em queda livre. Ele foi afastado da eleição baiana. Parou
de dar entrevistas. Por fim, faltou à diplomação do governador Rui Costa, que
tomou seu lugar como candidato do PT.
Na
quarta (14), o nome de Gabrielli voltou a aparecer em letras miúdas no "Diário
Oficial" da Bahia. Por exigência da lei, ele entregou uma declaração
atualizada de bens ao sair da administração estadual.
O
documento revela que o economista é dono de uma carteira respeitável na Bolsa. Tem
ações de 17 empresas, das Lojas Americanas ao Itaú. Os papéis somam R$ 1,4 milhão.
O dado curioso: mantém apenas R$ 120 aplicados na Petrobras.
Embora
tenha dito à Justiça Federal que nada sabia sobre o esquema de corrupção na
estatal, Gabrielli é um homem bem informado. Deve ter motivos para deixar menos
de 0,01% de seus investimentos na empresa que comandou. Questionado pela
coluna, ele preferiu o silêncio.