28
de janeiro de 2015 | N° 18056
ARTIGOS
- ALFREDO CANTALICE NETO*
O RISCO DE
GENERALIZAR
Esta
passagem de ano foi marcada por três acontecimentos que o c u p a r a m a s
atenções da imprensa e nos transmitiram sentimentos de decepção, insegurança e
equivocada generalização.
No
âmbito mundial, os terríveis atentados na França, especialmente o ataque à
revista Charlie Hebdo, levaram a uma reação local de responsabilização das
pessoas da mesma religião, logo difundida pelo mundo. Mas o bom senso imperou e
a realidade desnuda mostrou que quase todas as religiões têm representação na
população francesa e a radicalização religiosa é uma exceção.
Em
outra esfera, o escândalo da Petrobras e suas denúncias, que se multiplicavam a
cada dia, causaram um descrédito total na estatal. Adicionalmente, aventou-se a
possibilidade de envolvimento de líderes políticos nacionais, derivando, então,
para uma impulsiva generalização de má índole de nossos dirigentes.
Evidentemente, esse sentimento foi seguido pela percepção de que o grupo de
criminosos está sendo identificado e punido. Mais uma vez, o bom senso nos
mostrou que, por outro lado, a empresa é composta por um número bem maior de
funcionários honestos e trabalhadores.
Em
meio a esses acontecimentos, foi denunciada na área da saúde uma prática
criminosa, realizada contra pessoas submetidas a cirurgias para colocação de
próteses, envolvendo profissionais e hospitais. Imediatamente nos identificamos
e ficamos chocados com a possibilidade de cirurgias desnecessárias,
superfaturamento e comissões milionárias que teriam sido pagas a profissionais
e hospitais. Seguiu-se, novamente, uma sensação de dúvida sobre a índole de
todos os médicos.
Nesse
caso, também os médicos, a exemplo de qualquer infrator da lei neste país,
devem ser julgados e, se forem culpados, deverão sofrer os rigores da lei e do
processo ético-disciplinar dos conselhos esta- duais e federal de medicina, sob
a luz de nosso Código de Ética Médica. Afinal, a confiança é basilar não apenas
na construção do atendimento ao paciente, mas em todas as relações sociais.
Façamos, cada um de nós, a justa distinção desses casos. Assim, também
estaremos exercendo a cidadania.
*Presidente
da Amrigs