A “troika” dos bancos públicos e o
seguro de Dilma contra a crise
A
manutenção dos presidentes do BNDES, da Caixa e do BB deixa uma interrogação em
relação à real disposição de Dilma mudar sua forma de governar no segundo
mandato
JOSÉ
FUCS - 21/01/2015 19h43 - Atualizado em 21/01/2015 20h09
BNDES
(Foto: Divulgação)
Sede
do BNDES, no Rio de Janeiro: operação-hospital para a Sete Brasil a pedido de
Dilma (Foto: Divulgação)
Ainda
não é oficial, mas tudo indica que, por enquanto, a presidente Dilma Rousseff
vai manter nos cargos os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, do Banco do Brasil, Aldemir
Bendine, e da Caixa, Jorge Hereda. Ao menos por enquanto.
Embora
a informação tenha passado meio batida pela mídia, ela pode significar muito
mais que uma mera decisão burocrática.
Num
momento em que o governo tem de adotar uma dura política de contenção de gastos
e de aumento de impostos, para cobrir o rombo que Dilma deixou nas finanças
públicas em seu primeiro mandato, a continuidade de Coutinho, Bendine e Herada
no governo, pode representar para ela uma espécie de seguro contra a crise que
se anuncia.
Homens
de confiança de Dilma e donos da chave do cofre dos três grandes bancos
públicos, eles poderão “irrigar” a economia com crédito farto se o ajuste
comandado pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, demorar a produzir os
resultados desejados e gerar uma paradeira que tenha efeitos perversos no
emprego e na renda da população. Basta uma ordem da chefe para eles abrirem o
cofre.
Um
aperitivo do que pode acontecer foi a determinação recente de Dilma para que o
BB e o BNDES socorram a Sete Brasil, a maior fornecedora da Petrobras no
pré-sal, para evitar a quebra da empresa e a ocorrência de demissões no setor.
Como
se tornou recorrente em seu primeiro mandato, Dilma não se intimidou em usar
mais uma vez seu poder para interferir na política de concessão de crédito dos
bancos públicos. Ela pediu a Coutinho e Bendine para destravar empréstimos de
cerca de US$ 3,5 bilhões (R$ 9,1 bilhões) para a Sete Brasil poder contratar
oito sondas de perfuração de petróleo para a Petrobras.
Pediu
também a concessão de um “papagaio” de R$ 800 milhões para a empresa, que tem o
banco BTG Pactual e os três maiores fundos de pensão estatais – Previ (Banco do
Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa)
– como seus principais acionistas, resolver seu problema financeiro
imediato.
A
Caixa, por sua vez, é uma muleta à qual Dilma recorreu com frequência em seu
primeiro mandato para cobrir despesas do governo e melhorar artificialmente as
contas públicas. A instituição é alvo de uma investigação do Tribunal de Contas
da União (TCU) por ter usado recursos próprios para pagar obrigações do governo
de responsabilidade do Tesouro Federal, como o Bolsa Família, o
seguro-desemprego e o abono salarial – uma ação proibida pela Lei de
Responsabilidade Fiscal.
A
continuidade dos três “banqueiros” de Dilma, portanto, deixa uma interrogação
em relação à sua real determinação de mudar o seu jeito de governar e de fazer
o que tem de ser feito para equilibrar as contas públicas. Levy está no caminho
certo, apesar de as medidas anunciadas até agora representarem um custo penoso
para a sociedade, mas a contenção do crédito é um capítulo essencial para a
política de combate à inflação e para reforçar o ajuste que ele está promovendo.
Se
os bancos públicos continuarem a despejar bilhões de reais na economia por
motivação política, sem levar em conta os aspectos técnicos, com o objetivo
populista de tentar tornar o ajuste menos doloroso, o dinheiro que entrar pela
porta da Receita Federal acabará saindo pelos guichês da Caixa, do BB e do
BNDES.