quinta-feira, 22 de janeiro de 2015


22 de janeiro de 2015 | N° 18050
EDITORIAL ZH

COLAPSO ENERGÉTICO

As omissões do governo têm o maior peso no conjunto de fatores que deixam o país na iminência de um apagão.

Ainda que o governo federal relute em admitir, especialistas asseguram que o Brasil está à beira de um colapso energético, resultante da conjugação perversa entre a falta de planejamento dos administradores, o chamado estresse hídrico (pouca chuva) e a pouca conscientização dos consumidores.

De todos esses fatores, o primeiro é o que mais contribui para que a crise do setor tenha chegado ao atual estágio. Uma sucessão de omissões, deste e de governos anteriores, subestimou a capacidade de geração e de distribuição do país. Uma estrutura que há anos está aquém da demanda expõe agora suas fragilidades, com apagões eventuais que, conforme advertência de analistas da área, podem, sim, se transformar em interrupções generalizadas de energia. A prova disso foi o recente corte, que atingiu 11 Estados.

A situação é grave, especialmente no momento em que o país enfrenta uma onda de calor que eleva consideravelmente o consumo. Surpreende que, nesse contexto, as declarações das autoridades não contri- buam para transmitir confiança aos consumidores.

Nesta semana, o ministro de Minas e Energia fez uma afirmação inútil para as tentativas de compreensão da ameaça de falta de luz. Disse o senhor Eduardo Braga que “Deus é brasileiro” e que ele fará alguma coisa para que volte a chover em determinadas regiões, elevando assim os níveis dos reservatórios. É óbvio que a geração das hidrelétricas depende das chuvas, mas não só disso.

Mesmo que o ministro tenha relacionado uma série de investimentos, sabe-se que muitos deles chegam tardiamente. O risco de déficit de energia vem crescendo a cada ano, de acordo com prognósticos de organismos que monitoram o setor. Essa ameaça só não foi ampliada porque a economia brasileira não cresce no ritmo desejável. Mesmo assim, houve expressivo impacto de consumo pela melhoria de renda da população. O dado mais cruel disso tudo é que os mesmos cidadãos beneficiados pela ascensão social são agora punidos pelos exagerados aumentos nas tarifas, que em alguns casos ultrapassam os 50%.


Nesse contexto, a energia elétrica não pode ser vista apenas por sua relevância econômica. É também uma conquista social que expressa melhoria na qualidade de vida. O consumidor saberá fazer a sua parte, com o uso racional desse recurso. E o governo deve cumprir com suas atribuições, sem transferir responsabilidades para Deus e para o acaso.