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de janeiro de 2015 | N° 18052
DAVID
COIMBRA
Um pedido para a deputada das
medalhas
Não
é verdade que a deputada Marisa Formolo, do PT, homenageou 21 parentes na
Assembleia Legislativa. Nada disso. Foi VOCÊ quem homenageou os 21 parentes da
deputada, o marido dela, seus filhos e netos, todos aqueles cunhados, mais um
genro e, o que mais me surpreende, uma nora – as mulheres em geral não se dão
bem com as noras.
Sim,
foi VOCÊ e, glup, eu também, porque a Assembleia Legislativa representa o povo
do Rio Grande do Sul. Nós é que pagamos aquelas medalhas que os Formolo
ostentarão com orgulho cívico na galinhada de domingo. Espero que ninguém deixe
a medalha que nós demos cair na sopa de capeletti.
A
deputada disse que tomou essa iniciativa para valorizar a família. Achei
bonito. Tanto que venho aqui, como contribuinte e cidadão, fazer uma
solicitação à parlamentar. É o seguinte:
Dona
Marisa, gostaria, por favor, que o povo do Rio Grande do Sul desse uma medalha
para a minha mãe.
Dona
Diva, o nome dela. A minha mãe, digo.
Veja,
deputada: minha mãe era professora da rede estadual de ensino. Só por isso ela
merecia ser homenageada. Ensinou as criancinhas por anos e anos e anos. Eu mesmo
testemunhei galalaus se aproximando emocionados dela e balbuciando, como se
ainda fossem meninotes:
_
Profe... A senhora me ensinou a tabuada...
Mas,
depois de se desquitar, minha mãe não conseguiu sustentar os três filhos com o
salário pago pelo mesmo Estado que paga o seu salário, deputada. Assim, ela foi
ser vendedora de livros da Abril Cultural. Trabalhava aos sábados, domingos e,
desta forma, os três filhos conseguiram fazer faculdade, sonho de toda família
descendente de imigrantes.
Verdade
que a minha mãe nunca foi do PT. Reconheço que isso pesa contra a concessão da
homenagem. Ser do PT é legal porque você pode fazer o que quiser, mentir na
campanha, montar caixa 2, tomar algum da Petrobras, tudo, e continuará com a
imagem de defensor dos oprimidos. Você pode até ser preso, que entrará no
presídio de punho cerrado, vitorioso, uma vítima dos poderosos. É lindo ser do
PT.
Li
também que seu irmão foi agraciado com a maior honraria do Estado porque foi
presidente de sindicato. Droga. Minha mãe nunca foi presidente de sindicato.
Não dava tempo! Ela tinha de trabalhar para pagar as prestações do BNH, as
contas da casa, os livros que a escola pedia todo começo de ano, essas coisas
que as pessoas que não têm medalha pagam.
Por
fim, fiquei sabendo que a senhora é autora do projeto de lei que institui a
Política Estadual de Apoio ao Bambu, no que, evidentemente, teve o respaldo e o
incentivo de toda a sua prolífica e engalanada família. Maldição! Que eu saiba,
minha mãe nunca deu muita bola para o bambu.
É...
pensando bem, deixa a minha mãe sem homenagem mesmo. Vou ter que avisar para a
dona Diva que o almoço de domingo vai ser sem medalha.
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de janeiro de 2015 | N° 18052
NÍLSON
SOUZA
CALENDAS
BRASILEIRAS
Ganhei
de presente um calendário de 2015 do meu amigo Laércio, que nos meses de
dezembro trabalha como Papai Noel num dos mais movimentados shoppings da
Capital. É um excelente vizinho: discreto, inteligente, está sempre de bom
humor e mantém permanente disposição maçônica para ajudar o próximo, como já
pude comprovar ao acompanhá-lo numa visita natalina ao Hospital São Pedro. Na
verdade, é Papai Noel o ano inteiro, até mesmo porque conserva intocáveis as
espessas barbas brancas que as crianças exigem do personagem.
Pois
bem, mas o tema desta crônica não é Papai Noel, e sim o seu presente. O
calendário de 2015, pelo qual já transitamos há mais de três semanas, assinala
nada menos do que 11 feriadões. Isso que a Proclamação da República, em 15 de
novembro, e o nosso 20 de Setembro, data farroupilha, caem no domingo. Mas as
demais folgas oficiais ou nem tão oficiais assim atingem as “feiras”, num total
de – pasmem! – 36 dias úteis que serão prazerosamente transformados por muitos
brasileiros em inúteis. Claro, estou incluindo aí até o Carnaval, que sequer é
considerado um feriado oficial.
Se
juntarmos os feriadões com os sábados e domingos normais, teremos seguramente
mais de cem dias de inatividade, quase um terço do ano. Quem tira férias
regularmente pode botar mais um mês aí. E há ainda os dias dedicados a
determinadas categorias profissionais, que obviamente não trabalham nas suas
datas.
Essa
farra de ócio nem sempre criativo me faz lembrar a letra de uma canção caipira
da minha infância, que dizia mais ou menos o seguinte: “Domingo eu vou à missa,
não posso trabalhar; segunda-feira é preguiça, preciso descansar. Terça-feira é
dia santo, se trabalho é pecado; na quarta fico doente, quinta-feira é feriado.
Sexta-feira eu não trabalho por ser dia de azar; sábado é fim de semana, também
quero descansar”.
Eta
nóis...
Somos
criativos, sim, especialmente para brincar com nossas próprias mazelas – e a
cultura dos feriadões talvez seja uma delas. Mas não vou generalizar, tem gente
que trabalha muito neste país. Meu amigo Papai Noel, por exemplo. Um dia
seremos todos como ele. Um dia que deve estar nas calendas gregas. Ou
brasileiras.