segunda-feira, 26 de janeiro de 2015


26 de janeiro de 2015 | N° 18054
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA

Mozart para todos

Pois a Amazon chegou lá. A empresa que se especializou em bagunçar a vida da internet não se deu muito bem nas suas primeiras tentativas de criar conteúdo próprio. Uma coisa é ter uma lojinha e outra coisa é ter um estúdio de cinema, não é mesmo?

Quem saiu na frente foi a Netflix, que tinha mais DNA de Hollywood e logo acertou com House of Cards e Orange Is the New Black, mais a nova temporada de Arrested Development. A Amazon tentou, fez umas experiências, sem grande impacto. Pois essa fase passou. Com Transparent, premiada no Globo de Ouro (melhor série de comédia e melhor ator, como o maravilhoso Jeffrey Tambor), e a sensacional Mozart in the Jungle, a Amazon chegou lá, e chegou bem.

Mozart in the Jungle é uma deliciosa história sobre a vida duríssima dos músicos, especialmente os aspirantes a alguma coisa; a competição sem limites em uma sinfônica de alto nível; os egos galácticos dos grandes maestros; as picuinhas e as genialidades de pessoas que realmente amam a música acima de tudo. Ah, e Mozart.

Tive belos momentos na infância assistindo à Ospa, tive a glória de ver a Berliner Philharmoniker, e aqui em SP vou até a excelente Sala São Paulo me hipnotizar com a Osesp. Ouvir uma sinfônica ao vivo é a experiência que mais nos aproxima de alguma coisa, hummm, superior?

Escolher esse cenário é um dos achados de Mozart in the Jungle. O outro grande acerto é Gael García Bernal no papel do genial, genioso, excêntrico e latino prodígio da música erudita mundial, aka Rodrigo. Nesse personagem pop, o mundo erudito busca a salvação, ou o público, e a questão é esta: vai funcionar, ou simplesmente transformar uma grande orquestra em um grande anúncio da Apple?

Gael é encantador, Malcom McDowell exagera como o aposentado maestro emérito, todos os demais cumprem seus papéis com competência, e Mozart in the Jungle tem apenas um grave defeito: curtos 30 minutos de duração, o que deixa a mim, a você, ao senhor aqui ao lado, querendo mais, como tem mesmo que ser.