28
de janeiro de 2015 | N° 18056
FÁBIO
PRIKLADNICKI
O OUTRO BUENA
VISTA
Ainda
não consegui deixar de me impressionar com as delícias do mundo da música por
assinatura – conhecido, no Brasil, como streaming. Estou falando de Spotify,
Deezer e que tais.
É
estranho imaginar que até o ano passado, quando aderi a um destes, tinha que
garimpar raridades em lojas de CDs importados – sim, porque muito da world
music e da música clássica não estava disponível sequer para download. Agora, o
problema é outro. Com um catálogo que parece infinito à disposição 24 horas por
dia, a dificuldade é ouvir um disco até o fim: quero tudo ao mesmo tempo.
Espero que seja uma fase.
A
música por assinatura é o sonho dourado dos adolescentes que, até a década de
1990, trocavam precárias fitas cassete com amigos para descobrir novos sons.
Agora, temos o que gostamos na palma da mão, literalmente. Aí está uma questão
curiosa: mesmo podendo ouvir qualquer coisa, seguimos com os mesmos. Em vez de
três discos do Led Zeppelin, devoramos todos.
Há
uma ferramenta no Spotify que recomenda músicas com base no que você tem
escutado. Não funciona direito pra mim. Ouvi Elis Regina e me apresentaram
Maria Rita. Gostaria de descobrir coisas que ainda não sei que vou gostar. Uma
boa ideia seria gerar sugestões baseadas em critérios mais interessantes, como
“música com percussão tocada em colcheias e semicolcheias”.
Tive
mais sucesso em diversificar minhas audições seguindo playlists do Spotify, que
é o mais próximo que podemos chegar das antigas fitas gravadas por amigos. Achei
uma que é The Hot Sounds of 1926 e constatei que só tinha coisa boa naquele
ano: Fletcher Henderson, Al Jolson, Jelly Roll Morton.
Acabei me demorando
mesmo na playlist Global Music Day, onde conheci o Sierra Leone’s Refugee All
Stars, tipo um Buena Vista Social Club dos refugiados de Serra Leoa. O álbum
Radio Salone (2012) é um primor. E pude – veja só – me regozijar com percussão
tocada em colcheias e semicolcheias.