23
de janeiro de 2015 | N° 18051
MARCOS
PIANGERS | MARCOS PIANGERS
A eleição não
acabou
Primeiro
foi sobre o assassinato dos cartunistas franceses. Depois sobre o
anti-islamismo. Depois sobre a política antidrogas, a execução do brasileiro na
Indonésia, a soberania de um país, leis mais duras pra combater os crimes. E,
se você for masoquista, pode ler os comentários de qualquer notícia, coluna ou
vídeo na internet e vai chegar a essa conclusão: a eleição não acabou.
Qualquer
pessoa que se coloque a favor dos direitos humanos é petralha. Qualquer pessoa
que defenda uma linha dura de combate aos crimes é tucano coxinha. E, às vezes,
são as acusações mais aleatórias. Você pode ser chamado de petralha ou coxinha
por qualquer declaração, dependendo de como a pessoa leu. Você pode ser a pessoa
mais moderada e ainda assim vai ser jogado pra algum lado – provavelmente o
lado contrário. E provavelmente com muitos erros de português.
Já
cansei de encontrar pessoalmente gente que me chamou de petralha ou de coxinha
na internet. Ao vivo são superamáveis, tira uma foto comigo, adoro seu trabalho
só não concordei muito com aquela sua opinião. Ou mesmo quando respondo a um
e-mail raivoso, ele sempre volta mansinho, não tinha pensado por esse lado,
acredito que ambos estamos certos grande abraço te admiro muito. Ou seja,
quando ninguém está olhando somos humanos. Quando estamos disputando curtidas
viramos bicho.
No
ambiente da internet, todo mundo tem um microfone e fala ao mesmo tempo. E em
um ambiente barulhento, pra conseguir aparecer, é necessário contundência. Não
basta ter opinião, é preciso gritar. E quem grita mais alto tem mais
seguidores, uma multidão virtual cega que grita em coro o que acredita e, às
vezes, até o que não acredita. A ironia é que a agressão mais comum é “vá se
informar” ou “leia a respeito”, mas ninguém está lendo a respeito. Ou, quando
lê, é a opinião de alguém que pensa exatamente como ele, o que meio que anula a
tentativa de evoluir a discussão.
O
resultado das eleições foi tão apertado, que quem perdeu ainda acha que dá pra
ganhar, quem ganhou ainda acha que dá pra perder. E, nessa eleição
interminável, o bom senso e a ponderação não foram pro segundo turno.