27
de janeiro de 2015 | N° 18055
ARTIGOS
ZH
KISS, DOIS ANOS E AS FALSAS
LÁGRIMAS
Simboliza,
também, o egoísmo coletivo, escondido na emoção inicial conjunta do primeiro
momento de ardor vertido em caudalosas lágrimas, mas que se esvai, como a
fumaça do próprio sinistro, apagando-se processualmente com o passar de pouco
tempo.
Não
me refiro apenas à impunidade que impera até hoje, após 730 dias, soando como
um deboche institucional à dor dos sobreviventes e dos familiares das vítimas.
E
nem ao manto de esquecimento com que muitos veículos de comunicação cobriram as
decorrências do episódio, depois da efervescência emotiva inaugural que o
horror inusitado da mortalidade ampliada despertou nos seus ouvintes, leitores
e telespectadores.
A
própria descaracterização posterior da legislação de segurança e prevenção
contra incêndios, elaborada em comissão especial do parlamento, que tive a
tarefa honrosa e a responsabilidade de presidir ainda em 2013, é resultado
desse sentimento, que tenta eliminar más lembranças da memória, para evitar o
compartilhamento da culpa de todos pela conivência com a omissão com que se
trata o caso até hoje.
Na
tribuna do Legislativo, acentuei, repetida e recorrentemente – mas em vão –
sobre os graves riscos da flexibilização da chamada Lei Kiss, que teve o rigor
original abatido por emendas parlamentares. Sobretudo a partir de pressões de
setores propondo excepcionalidades que legitimam o “jeitinho”, condenado na
legislação anterior, pela defesa de interesses econômicos particularistas ou
mesmo inconfessáveis. Felizmente, a última tentativa foi vetada pelo governador
Tarso, mas voltará à apreciação do parlamento.
De
tudo, ficou a dúvida sobre se o que importa mesmo é a preservação da vida
humana.
Ou
se, na verdade, ela vale menos que alguns metros quadrados de construções que
revertem em tributos arrecadatórios, lucros imobiliários ou ganhos de alguns.
Professor,
engenheiro e deputado - ADÃO VILLAVERDE