segunda-feira, 26 de janeiro de 2015


26 de janeiro de 2015 | N° 18054
ARTIGOS - JEFERSON FERNANDES - Deputado estadual (PT)

MEU PARTIDO É O RIO GRANDE?

O próprio Sartori alegava não ser conhecido do grande público. Daí que, ao trocar PMDB, seu partido de fato, por “Rio Grande”, o referido slogan criou condições ao então candidato de se apresentar como alguém não submetido a interesses partidários, mas disposto a governar com uma equipe técnica e não política.

Já na campanha eleitoral, alertávamos que era contraditório alguém que milita politicamente desde a juventude depor contra partidos. Nossa denúncia, contudo, soou como mera reclamação de opositores. Mas, analisando agora a montagem do novo governo, há condições de afirmar que a tal frase de efeito não passava de um embuste semântico eleitoral.

Aos fatos: 1 – o governador assume que seu partido é o PMDB, porque é essa sigla que ocupa oito secretarias; 2 – ao descartar um secretário técnico até para a Secretaria da Fazenda, Sartori demonstra que não está nem aí para o não político; 3 – as pastas estaduais estão divididas entre seis partidos da coalizão governista e o perfil de boa parte dos novos secretários pouco ou nada tem a ver com as áreas específicas que assumiram; 4 – a diminuição de 10 secretarias é pura fachada. Exceto os cargos dos secretários, nenhum outro CC ou FG foi extinto.

O constatado não seria nenhum absurdo, não fosse o fato de há tão pouco tempo o candidato Sartori ter falado o contrário do que faz agora. Paradoxalmente, a falácia do marketing usado contribui para aumentar ainda mais o descrédito dos líderes e dos partidos.

Então, mais do que reafirmar o logro do povo gaúcho – que terceiro turno não há – , nossa tarefa é encontrar formas de fortalecer a democracia, melhorando nossos partidos e apresentando bons programas de governo (ao invés de omiti-los), sem o medo de dizer que, sim, uma administração se faz com gestores políticos que não menosprezam o conhecimento técnico.

O contrário é engodo ou ditadura. Aliás, essa também é um engodo, porque geralmente os ditadores estão sob a égide de um partido, mesmo que seja o único.


Mesmo correndo o risco de romper com aquele entendimento tácito tradicional de que não se deve criticar um governo antes dos seus primeiros cem dias, torna-se imperioso alertar o povo gaúcho de que o seu novo governador é, sim, um político. E dos mais tradicionais. Daqueles que não se enrubescem mesmo quando confrontados com a maior das contradições. Sartori despolitizou a campanha para partidarizar o governo.