20
de janeiro de 2015 | N° 18048
MÁRIO
CORSO
Interceptei a mensagem de um
E.T.
Primeiro
informe ao planeta Zorg.
Estou
muito animado no meu primeiro dia no planeta Terra. Orgulhoso de ter sido
escolhido para a missão de reconhecimento dessa curiosa civilização
semi-inteligente.
Já
posso dizer, num primeiro relance, caso queiramos entrar em contato e trazer
presentes: o que eles mais precisam é de gás carbônico. Cada grande cidade
possui enormes usinas fixas de produção de CO2 com gigantescas chaminés. Como
isso não é suficiente, uma manobra coletiva permite uma distribuição mais
eficiente a partir de pequenas usinas móveis.
Existe
um ritual de solidariedade que possibilita tornar a atmosfera mais compatível
com a espécie que domina o planeta. Logo que sai o sol, cada família que tem
posses pega o seu produtor móvel de CO2 e sai distribuindo fumaça em rotas
aparentemente aleatórias. A solidariedade se repete perto do meio-dia e ao
redor do entardecer. Os mais prestativos fazem isso em outros horários e
inclusive à noite. Isso possibilita cobrir toda a extensão das cidades com uma
atmosfera amigável.
É um
povo de uma persistência admirável, entopem as vias e quase não saem do lugar
por horas. Exceção das microusinas, de apenas duas rodas, talvez usadas também
para transporte, afinal, essas circulam.
Sem
esse gás, creio que eles não vivem. Por essa razão, existem poucas pessoas
vivendo em áreas verdes. Creio que a concentração de oxigênio lhes seja
prejudicial. Talvez somente indivíduos particularmente robustos possam
sobreviver em tais condições. Motivo pelo qual, eles se esforçam para derrubar
as florestas produtoras de oxigênio e umidade.
Mesmo
assim, com todo esse empenho, alguns precisam usar CO2 concentrado. Existe um
dispositivo bem inteligente que permite uma dose direta. É um canudo fino,
branco, que, ao ser aceso em uma das extremidades, garante um suprimento para
os mais débeis. Evidentemente, quem está em volta aproveita um pouco da fumaça.
Fora
a necessidade extrema de gás carbônico, nada mais poderia explicar a audácia em
usar tais dispositivos móveis. É visível um contraste extremamente desigual
entre as usinas móveis, todas em metal rígido – apenas as rodas são macias – e
a fragilidade dos humanos. Eles possuem corpos sem exoesqueleto, são
constituídos basicamente de carbono e água, e o cerne é de uma quebradiça
estrutura de cálcio.
O
exercício da solidariedade da fumaça é perigosíssimo. Muitos perdem a vida,
pois a usinas são bólidos primitivos que, não raro, colidem entre si ou
atropelam humanos e animais, causando danos irreversíveis. É de um absurdo
“custo humano”, para usar o vocabulário local.
Não
fosse CO2 o gás da vida, diria que nem entre as civilizações semi-inteligentes
poderíamos classificar os terráqueos.