01
de abril de 2014 | N° 17750
PAULO
SANT’ANA
Golpe manjado
Só
faltava esta: tentaram manter preso, entre nós, um homem acusado de ser o
assassino por uma testemunha que disse em primeiro lugar que era testemunha
ocular, mas se negou a dar seu nome.
Felizmente,
o juiz que decidiu sobre a sorte do acusado mandou soltá-lo imediatamente.
Então,
que fique bem claro para sempre que a chamada testemunha ocular não pode ficar
no anonimato.
Compreende-se
que uma testemunha queira ficar anônima: ela teme por sua vida se vier a dar
seu nome para um testemunho que vai incriminar um bandido. Essa testemunha tem
fundadas razões e temores para não assinar seu nome num depoimento: teme que o
acusado por ela venha vingar-se por isso.
Só
que, sem assinar, sem dar seu nome a um depoimento, este não vale absolutamente
nada.
Imaginem,
por hipótese, uma testemunha chegar diante de um juiz e declarar o seguinte:
“Excelência, eu vi com os meus olhos que foi Fulano que matou Sicrano. No
entanto, não posso dar a Vossa Excelência o meu nome. O meu nome é meu,
pessoalíssimo, não lhe fornecerei. O assassino o senhor já conhece porque eu
estou lhe dando o nome, vi-o com meus olhos matando a vítima, mas a mim o
senhor não conhece e eu não vou lhe dar o meu nome”.
Em
suma, palavra de quem não se identifica perante a autoridade não é testemunho,
é informação. Quem não assina o que afirma não é testemunha, é informante.
Por
isso é que o juiz mandou acertadamente soltar o acusado.
Mudando
abruptamente para o futebol, é manjadíssimo o golpe que dão alguns treinadores
para enganar jogadores enganáveis.
Eles
pegam recortes de jornal em que cronistas afirmam antes de um jogo que seu time
vai perder de goleada e mostram para os jogadores serem ofendidos em sua honra
profissional.
Muitas
vezes, os cronistas nem afirmam isso, mas eles bradam com o jornal em punho
inventando que aquilo foi escrito.
Os
jogadores limitados e néscios caem no golpe e entram em campo para jogar não
contra o time adversário, mas contra o cronista que escreveu que eles seriam
goleados.
É
manjado o golpe, mas há quem ainda caia nele.
Treinador
que não sabe como treinar seu time para jogar bem vale-se desse expediente para
lograr seus jogadores.
E
jogador que não sabe ou não pode jogar bem é enganado nesses golpe e dá tudo no
dia do jogo, só de ódio do cronista.