04
de abril de 2014 | N° 17753
PAULO
SANT’ANA
As chances
Ninguém
é culpado por ter nascido. Sendo assim, pergunto a cada um de meus leitores e
leitoras: foi melhor você ter nascido?
Se
de uma parte foi bom que tivéssemos nascido, por outra não foi bom.
Os
momentos felizes que tivemos justificam nossa existência. Mas e as dificuldades
ou desgraças por que passamos não nos levam à conclusão de que seria melhor que
não tivéssemos nascido?
De
qualquer sorte, é positiva a aventura da vida.
Foi
melhor termos nascido homens ou mulheres? Ou, tendo sido homem, invejamos as
mulheres e vice-versa?
De
minha parte, eu queria ter nascido e nunca ter deixado de ser criança. Ou seja,
eu nunca queria ter tido responsabilidade. E nunca teria perdido a inocência e
a pureza.
Você
queria ter nascido branco ou ter nascido negro?
Você
queria ter nascido inculto ou sábio?
Eu,
por exemplo, queria ter nascido burro, com isso sofreria menos.
Não
tendo nascido burro, no entanto, isso me trouxe enormes dificuldades por ter
solvido enigmas que me fariam feliz se eu os desconhecesse caso não os tivesse
decifrado.
Se
eu fosse burro, me irritaria menos com a burrice alheia.
Só
que, às vezes, desconfio de que sou burro, tanto que me casei duas vezes. Ou
seja, tive a oportunidade de ser feliz quando me casei pela primeira vez e
podia ter ficado solteiro me separando. Mas não. Separei-me de uma mulher para
casar-me com outra, existe maior burrice que a burrice dupla?
Se
eu fosse negro, outro exemplo, teria maior chance de não ser racista. Em
compensação poderia ser discriminado por racismo.
Se
eu fosse homossexual, não teria filhos e isso me diminuiria as despesas e ao
mesmo tempo me despreocuparia com as obrigações com a prole.
Se
eu fosse covarde, isso me livraria das estultices da valentia.
Se
eu fosse protestante, não teria o trabalho de ter de venerar os santos.
Se
eu fosse ciclista, teria maiores chances de ser atropelado.
Se
eu fosse pedestre, é certo que também seria atropelado, embora não tivesse de
gastar com emplacamento, habilitação para motorista, gasolina.
Se
eu fosse insensível, não amaria, o que seria uma vantagem por não ter ciúme nem
sofrer jamais a dor terrível de perder um dia a mulher amada.
Se
eu não fosse humano e fosse um animal, será que compreenderia melhor os homens?
O certo é que compreenderia melhor os próprios animais.
Se
eu fosse colorado, não teria tido a ventura suprema de ser gremista.