sábado, 5 de abril de 2014


05 de abril de 2014 | N° 17754
PAULO SANT’ANA

Trajeto da vida

Até os 40 anos de idade, os anos vão passando sem que os percebamos.

Após os 40 anos, acende-se uma luz vermelha e cada ano que passa é um cutelo que se crava em nossos pescoços.

O que quero dizer é que a juventude acaba aos 40 anos. Daí em diante, vamos mergulhar num terreno perigoso que nos leva à velhice e à consequente e inevitável morte.

Sei por mim, que quando tinha 39 anos achava que era forte, promissor, invencível.

Depois dos 40 anos, fui então percebendo a minha fragilidade.

Até que chegou a minha velhice, aos 60 anos. Interessante é que se deu comigo o que, ao que se diz, se dá com todos: atingi então, como sexagenário, o esplendor intelectual, passei a pensar melhor, a compreender mais facilmente os mistérios da vida, embora muitos deles eu não conseguisse decifrá-los por completo.

Só que aos 60 anos, se passei a ser um ser pensante superior, por outro lado deu-se o ápice da minha decadência física, surgindo assim, pois, dentro de mim uma pororoca existencial.

A administração dessa luta interna, quando bem realizada, é o único caminho para a felicidade.

A vida de todos é assim mesmo. A idade também tem um escalonamento especial: começamos todos pela infância, quando não temos nenhuma preocupação com o futuro, ingressamos na puberdade e na juventude, o tempo dos sonhos, até que chegamos à maturidade, a época em que assentamos o pé no chão e só então desponta em nossas vidas o maior desafio: como atravessar a velhice?

Se nunca envelhecêssemos, a vida seria uma maravilha. Por um lado, nos livraríamos da velhice. Por outra parte, se fôssemos jovens sempre, desconfio que a vida se tornaria maçante.

De minha parte, gostaria de ser jovem com mentalidade de velho maduro. Quantas e quantas tolices eu deixaria de ter cometido, inclusive de casar-me. Daí que a fase da vida marcada pelo arrependimento é a velhice, nela se faz um balanço da própria vida e vemos que teríamos sido muito mais sábios se não tivéssemos cometido tantos erros.

Se eu pudesse, depois de morrer, ressuscitar em outra vida e tivesse consciência da existência anterior, por certo erraria menos e acertaria mais. Ou não?

Acho que não. O casamento, portanto, não deixaríamos de cometê-lo. Mesmo que soubéssemos que ele era um erro fatal, voltaríamos a incidir. Falo do casamento assim como está erigido, morando na mesma casa, empilhando filhos, sendo assaltados pelo fastio.

É, não tem jeito, erramos quando desconhecemos o que virá pela frente e erramos também se já fomos advertidos para que não repetíssemos o mesmo erro.

O erro é uma constante na conduta humana.


Às vezes, chego a pensar que o resumo da vida é a soma de todos os nossos erros.