05
de abril de 2014 | N° 17754
CLÁUDIA
LAITANO
Ao infinito e
além
Os
homens têm medo de você? Que tipo de amiga você é? Esse homem é para casar? Os
testes eram moda nas revistas femininas quando eu era adolescente – e
provavelmente ainda são. A tentação era mesmo irresistível: bastava responder a
10 perguntas aleatórias, contar os pontos e então descobrir tudo o que você já
sabia, mas não tinha com quem confirmar.
Nos
últimos tempos, as redes sociais deram novo fôlego ao passatempo, acrescentando
elementos da cultura pop ao repertório da brincadeira. Todo dia sou convidada a
descobrir que personagem do Friends eu seria, ou cantora pop, ou banda de rock,
ou princesa da Disney. Surgiram até versões mais eruditas, com deuses da
mitologia grega e peças de Shakespeare.
Além
de divertidos, esses testes apelam para a necessidade que temos de encontrar um
espelho mágico que nos diga quem somos e de que forma nos encaixamos no mundo.
O universo fica aparentemente mais organizado quando alguém diz quem você é, de
onde você veio e qual é a sua turma, o que talvez explique, em grande parte,
por que os jornais ainda publicam seções de horóscopos – mesmo depois de o
telescópio Hubble ter esquadrinhado o universo para muito além do nosso
mixuruco Sistema Solar.
Na
mesma lógica, era muito mais simples entender os sonhos quando manuais de
interpretação apontavam mensagens ocultas atrás de pesadelos como sair de casa
sem calçar os sapatos ou perder todos os dentes. Se Freud não tivesse bagunçado
o coreto da crendice popular, explicando como nosso inconsciente engendra as
histórias que inventamos todas as noites quando estamos dormindo, é possível que
houvesse ainda mais videntes ganhando dinheiro às custas das noites mal
dormidas dos outros.
A
ciência já está aí há algum tempo, fazendo o bom serviço de iluminar alguns
metros da estrada a nossa frente. Um trecho de conhecimento não desprezível,
mas ainda pequeno em relação a tudo o que não sabemos. Infelizmente, o que se
sabe até aqui – leis da física, conquistas da medicina, a magnífica teoria da
evolução – ainda está longe de ter o apelo popular de qualquer conjunto de
ideias que apresenta respostas prontas para todas as perguntas possíveis. A
ciência sabe que não sabe tudo, e essa é sua força e não sua fragilidade, mas
talvez faltem mais pessoas capazes de elogiar a elegância de uma fórmula
matemática com o mesmo entusiasmo de quem defende o pensamento mágico.
No
início dos anos 80, o físico americano Carl Sagan (1934 – 1996) fez esse papel,
ajudando mais de uma geração de jovens (do Brasil inclusive) a descobrir a
beleza da ciência com a série Cosmos, que ganha agora uma nova versão. A série
estreou em março nos EUA e vem sendo exibida no Brasil pelo canal NatGeo
(quintas, às 22h30). Todos os pais que gostariam de ver seus filhos crescerem
para fazer grandes perguntas em vez de se contentar com respostas fáceis
deveriam sugerir que eles assistissem ao imperdível Cosmos: a SpaceTime
Odyssey.