sábado, 31 de maio de 2014


01 de junho de 2014 | N° 17815
PAULO SANT’ANA

Profusão de cesarianas

Um milhão de mulheres dão à luz por ano através de cesarianas no Brasil, segundo o levantamento Nascer no Brasil. No setor hospitalar privado, mais de 80% dos partos acontecem com cesarianas. E, no SUS, mais de 50% dos partos são cesáreas.

Portanto, já não se fazem mais mães como antigamente. Antigamente, as mães se orgulhavam de sentir a dor do parto. Hoje, elas preferem se esconder atrás das anestesias nas cesáreas.

Tudo bem que sejam feitas cesáreas quando haja necessidade clínica. Mas a maior parte das cesáreas é realizada no Brasil sem justificativa clínica.

A Organização Mundial da Saúde está protestando por essas incontáveis cesarianas que se fazem por aqui. O que quer dizer que esse caudal cesariano é desaconselhável para a saúde das mães brasileiras.

Desconfio de que essa preferência pelas cesarianas esteja ligada a que as mães brasileiras em sua maioria preferem não sentir a dor no parto e fogem para a anestesia nas cesáreas.

É estranho isso. Até agora eu pensava que a mulher, ao ter parto natural e sofrer uma das dores mais terríveis que existem, junto com a dor renal, tornava a dor do parto inesquecível e por isso mesmo amava ainda mais profundamente o seu rebento. Amor de mãe, se diz, é o maior de todos os amores.

Mas terá a mesma intensidade o amor da mãe quando o filho nasceu por cesariana? Não é intrigante o que proponho?

Grande parte das cesarianas é feita porque as mães sentem-se ansiosas lá pela 35ª semana do parto e pedem aos médicos que antecipem o nascimento pela cesárea. Entre as mulheres que optaram desde o início da gestação pela cesariana, um terço delas referiu no levantamento que o fez por medo da dor do parto.

E, entre as mulheres que já haviam feito cesariana em parto anterior, apenas 15% delas fizeram depois partos vaginais. Interessante. Gostaram da cesariana. O levantamento não trouxe um dado que me torna curioso: se a maioria dos partos com gêmeos ou trigêmeos é feita ou não pela cesariana. Acredito que sim, dada a demora maior e teórica dificuldade maior no parto vaginal de gêmeos, é o que calculo.