sexta-feira, 30 de maio de 2014

Jaime Cimenti

Até sempre, Mario Quintana!

Há vinte anos Mario Quintana bateu suas asas de Anjo Malaquias e foi viver na estrela de Aldebaran. Menino do Alegrete, escreveu poemas universais, falando de amor, casas, ruas, morte, vida, tempo, amigos,  anjos, velhas tias, sapatos, janelas e muitas outras coisas ditas simples. Foi chamado de “poeta das coisas simples”, mas sua ironia, sua profundidade e sua perfeição técnica, inclusive como tradutor de mais de 130 livros e sua ampla gama de temas mostra que mereceu ser chamado de “poeta de amplo espectro”.

Em termos farmacêuticos, sua obra mágica, que lê a todos nós, poderia ser chamada da maravilha curativa. É cura para todos, ou quase todos os males. Tentaram classificar Quintana como neomodernista, pós-moderno, lírico, romântico, antimodernista, neosimbolista e não sei o que mais. Até de surrealista o carimbaram. Avesso a rótulos, limitações e manifestos efêmeros, Quintana nunca foi de bater continência em quartéis poéticos e obedecer a cartilhas de escolas literárias. Sempre foi ele mesmo, mais para eterno do que para moderno.

Quintana nunca andou na moda. Ele era e é a moda. Sem fazer concessões e sem aceitar limites estéticos, partidários, políticos ou outros quaisquer, Quintana confessou poeticamente seu tempo e sua vida, que também são os nossos, e nos faz lembrar que a poesia é maior e mais importante do que o poeta. Como Gardel,

Quintana está cada vez melhor e maior, ao contrário do que alguns equivocados andavam prevendo. Suas obras são reeditadas e sua poesia segue inspirando canções, peças teatrais, filmes e outras expressões artísticas. A pátina do tempo vai revelando novas visões dos poemas de Mario. Nos julgamentos do tempo e dos leitores, que são os que mais valem, Quintana passa, suavemente, de goleada.

Quintana é imortal pelo povo. Quintana caiu na boca, no coração e na alma do povo, como os grandes poetas. Grande Quintana, não precisou se refugiar e morrer nos pequenos e mofados mausoléus acadêmicos para ganhar a eternidade. Quintana nos mostra que a rebeldia, a criatividade, a vida e os recomeços é que importam.

Quintana nos ensinou a não aceitar conselhos, nem os dele. O resto é o resto. “Todos esses que aí estão/ atravancando meu caminho/ eles passarão/ eu passarinho!” Poeminha do contra de Mario Quintana, tipo testamento a favor da liberdade e do inconformismo, está aí para quem quiser e precisar.


Está aí para espantar pensamentos, pessoas, literatos e outros tipos e coisas menores, que por vezes ficam empatando ou tentando empatar nossos caminhos. Gracias, até sempre, Mario!