VINICIUS
TORRES FREIRE
O emprego em dois Brasis
Nível
de emprego nas metrópoles empacou faz sete meses, mas sabemos pouco do outro
Brasil
MENOS
GENTE procura trabalho, e o número de pessoas empregadas está praticamente
estagnado desde outubro de 2013, está muito claro e sabido, situação confirmada
outra vez pela pesquisa mensal de emprego do IBGE de abril, divulgada ontem.
Apesar
do baixo desemprego, tal situação sugere que a economia esfriou e implica a
princípio que há um empecilho adicional para a retomada do crescimento (força
de trabalho estagnada). A pesquisa mensal do IBGE, porém, trata apenas do
mercado de trabalho de seis metrópoles, São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto
Alegre, Salvador e Recife. O que acontece no resto do Brasil?
Não
sabemos muito bem, ainda. O que sabemos cria alguma confusão na análise, pelo
menos a respeito do futuro da oferta de trabalho. Que a economia está esfriando,
parece não haver muita dúvida.
A
interpretação do que se passa no país fica nebulosa devido a informações de
outra pesquisa do IBGE, a Pnad Contínua.
No
início deste ano, como se sabe, o IBGE passou a divulgar outra estatística de
desemprego, de abrangência nacional, com dados de emprego para cada trimestre
desde janeiro de 2012. A
informação mais recente da Pnad Contínua refere-se ao quarto trimestre de 2013.
A
estagnação da oferta de trabalho e do emprego nas grandes metrópoles começou
justamente em outubro de 2013. No entanto, na comparação com 2012, o trimestre
final de 2013 na Pnad Contínua (de âmbito nacional) parece bem melhor que o
trimestre final de 2013 na Pesquisa Mensal de Emprego (PME, restrita a seis
metrópoles).
A
ocupação (gente trabalhando) e a oferta de trabalho (gente empregada ou à procura
de emprego) crescem na Pnad, caem na PME. Tal comparação, porém, é arriscada.
Primeiro,
não se conhecem as manhas da Pnad contínua, que é muito recente (trata de
apenas dois anos, ante os 12 anos da PME); não se sabe como, nesta pesquisa, o
emprego reage a outras mudanças.
Segundo,
a Pnad Contínua é trimestral. Terceiro, abrange mercados de trabalho ainda mais
diferentes entre si que aqueles da PME (inclui cidades médias, pequenas, grotões,
o dinâmico Centro-Oeste, o rico interior paulista etc). A qualidade dos
empregos e as idas e vindas desses mercados são diferentes.
A
abrangência nacional da Pnad Contínua a princípio vai permitir que se contem
histórias, se façam interpretações e políticas públicas melhores. Isto posto, a
Pesquisa Mensal de Emprego não deixa os analistas a pé quando se trata de
interpretar as ondas de variação do crescimento da economia, ora em baixa.
Mas
a aparente divergência na situação do emprego nas metrópoles e no conjunto do
país cria dificuldades temporárias para projeções de médio prazo, como aquelas
que apontam o problema de a oferta de trabalho no Brasil crescer cada vez
menos, tendência derivada do ritmo menor de crescimento da população (quão
devagar? Onde?).
No
momento, em seis metrópoles, a quantidade de gente disposta a trabalhar cai
provavelmente porque mais jovens preferem estudar, porque a renda das famílias cresceu
e porque deve haver mais gente desanimada de procurar emprego, pois a economia
anda devagar. É uma situação anormal de desemprego em baixa recorde e de nível
de emprego estagnado faz um semestre.
vinit@uol.com.br