28
de maio de 2014 | N° 17810
PAULO
SANT’ANA
Enigma
metafísico
O
que será que quis dizer o grande poeta português Guerra Junqueiro quando
escreveu que “existe um ímã, Deus, oculto no infinito/ tem dois polos a alma, a
crença e a razão/ onde a razão acaba, a crença principia”?
O
que quis dizer o grande poeta e filósofo?
Ele
ainda acrescentou que “a crença é o luar da nossa intuição”.
Será
que quis dizer que crer em Deus é o pináculo do raciocínio humano? Ou será que
quis dizer que o homem, depois de não conseguir desvendar o seu destino e a sua
missão sobre a Terra, só se consola debruçando-se sobre a crença em Deus, só
ela o ilumina para lutar contra seus contraditórios?
Ou
será que Guerra Junqueiro quis dizer que o homem, depois de estudos acurados
sobre a razão da sua existência, desistiu completamente da racionalidade e foi
encontrar refúgio na religiosidade?
Por
sinal, alguns biógrafos dizem que Guerra Junqueiro morreu ateu.
Mas
outros afirmam que na última hora, antes de morrer, Guerra Junqueiro se
converteu à Virgem Maria.
Seja
como for, o que resta dessa história é que o poeta passou sua vida inteira
debatendo-se entre o ateísmo e a crença em Deus.
Por
outro lado, há alguns analistas do poeta que afirmam que ele não era ateu. Era
apenas o maior bombardeador de Igreja Católica, crítico feroz e implacável do
clero.
Tanto
que há um sexteto de um poema seu em que destila todo o ódio que tinha pelos
jesuítas:
Ó
jesuítas,
Vós
sois de um faro tão astuto,
Tendes
tal corrupção e tal velhacaria
Que
é de admirar que o filho de Maria
Não
seja tão velhaco
Não
seja tão corrupto
Andando
há tanto tempo
Em
tão má Companhia (a Companhia de Jesus, a ordem jesuítica).
Essa
questão toda desenrolada acima desemboca numa célebre pergunta filosófica: “Foi
Deus quem criou os homens ou foram os homens que criaram Deus?”