Elio
Gaspari
O governo da gerentona está
tonto
Sempre
falando em nome do andar de baixo, cada ministro diz uma coisa, e no fim quem
ganha é o sonegador
A
doutora Dilma deveria chamar os ministros Aloizio Mercadante e Guido Mantega
para saber se é verdade que seu governo está represando tarifas e preços de
combustíveis. Um diz que está, para o "bem da sociedade". O outro diz
que não. Essa pode ser uma discussão interminável, sobretudo se depender da
retórica de sábios como Mercadante e Mantega. Ambos patrocinam mais uma versão
do Refis (pode me chamar de Bolsa Sonegador). Na sua oitava temporada, ele
ressurgiu no entulho da medida provisória 627. Trata-se de um mecanismo pelo
qual quem deve à Receita Federal inscreve-se no programa, livra-se de multas e
parcela o débito a perder de vista.
O
Congresso aprovou um absurdo, esquecendo-se até mesmo de estabelecer um prazo
para a quitação. A doutora Dilma vetou a maracutaia, mas sua essência tramita
numa nova MP, a 638. Os beneficiários desse mimo serão, sobretudo, grandes empresas.
Nas versões anteriores, bancos e multinacionais safaram-se de autuações que
chegavam a R$ 680 bilhões. A Vale ganhou um desconto de R$ 45 bilhões. A
Companhia Siderúrgica Nacional livrou-se de um espeto de R$ 5 bilhões, e a
petroquímica Braskem limpou uma conta de R$ 1,9 bilhão.
Em
12 anos de governo, com sucessivas versões do Refis, o comissariado criou uma
segunda porta nas relações com o fisco. Numa, quem deve paga. Nessa modalidade
estão pequenos empresários apanhados num pulo de gato ou num erro. Grandes
empresas, com serviços financeiros (e advogados) de primeira, aprenderam que o
governo se assusta quando fica sem caixa e, para raspar o tacho, reduz suas
cobranças a preços camaradas. Assim, o melhor negócio é não pagar o que a
Receita cobra, à espera
do
próximo Refis.
BOLA
NA REDE
A
doutora Dilma cobrou e marcou. Vetou o contrabando incluído na medida
provisória 627 que aliviava as operadoras de planos de saúde
do
pagamento das multas por negativa de serviços contratados pelos quais recebem.
Era
uma verdadeira gracinha. Quanto mais procedimentos a operadora negasse, menor
seria o custo unitário da multa. Um claro estímulo à delinquência. Fica um
mistério: quem pôs o gato na tuba e conseguiu aprovar a medida na Câmara e no
Senado. O deputado Eduardo Cunha, relator da MP, diz que não foi ele. Quem foi,
não diz. Informa apenas que discutiu o assunto com comissários da Casa Civil e
do Ministério da Saúde. Sabe-se que pelo menos uma grande operadora achou que
aquilo era uma maluquice. Sabe-se também que o próprio Cunha teria advertido os
interessados que o truque ia dar bolo.
O
LOBO DE TRILUSSA
Vendo-se
a fala de Lula propondo que o PT recupere "o orgulho" no combate à
corrupção, sai da tumba do poeta italiano Trilussa (1871-1950) uma de sua
fábulas:
"Um
lobo disse a Deus:
-Algumas
ovelhas dizem que eu roubo muito. Precisamos acabar com essa maledicência.
E
Deus respondeu:
-Roube
menos."
(A
fábula vale para qualquer cacique que venha com o mesmo discurso.)
A
GRANDE REFINARIA
De
um sábio:
"Pela
tradição, as CPIs em torno da Petrobras dão em nada ou em denúncias envolvendo
quinquilharias. Se essa nova comissão trabalhar a sério, vai-se perceber que a
refinaria de Pasadena é mixaria se comparada com o que aconteceu na Abreu e
Lima, de Pernambuco."
EREMILDO,
O IDIOTA
Eremildo
é um idiota e há anos insiste em proclamar que se faz uma injustiça quando se
diz que Paulo Maluf tinha milhões de dólares no exterior. O deputado nega que
esse dinheiro fosse dele e tem razão. O ervanário é do idiota, que está pronto
para assumir a paternidade das contas.
Agora,
um tribunal suíço revelou que a Alstom depositou US$ 2,7 milhões numa conta
controlada por Robson Marinho e sua mulher.
Ele
foi chefe da Casa Civil no governo tucano de Mário Covas e hoje é conselheiro
do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. O doutor diz que nunca recebeu
dinheiro da Alstom.
É
verdade, de novo. O ervanário era do cretino.
Se a
Justiça aceitar o pleito de Eremildo, resolve-se uma parte
do
problema, pois ninguém precisará perguntar para onde ia o dinheiro depois que a
Alstom pingava os capilés.
PEDRA
CANTADA
O
senador Aécio Neves sabia perfeitamente em que água navegava quando orgulhou-se
de ter no Solidariedade o primeiro partido a apoiar sua candidatura.
Se
não lhe bastasse a sombra do mensalão mineiro, aproximou-se da rede de
influência do doleiro Alberto Youssef, que estava restrita ao PT e ao PP. O
deputado Luiz Argôlo, do Solidariedade, trocou 1.411 mensagens com o doleiro.
REFIS-PILOTO
Nos
próximos quatro domingos o signatário estará ausente deste espaço,
integralmente dedicado ao projeto-piloto de um novo tipo de Refis. Em vez de
trabalhar e pagar impostos, continuará pagando o que lhe cobram, mas ficará sem
trabalhar. Se der certo, muda a história do mundo.
CELSO
DANIEL VOLTA A ASSOMBRAR O PT
O
sequestro e assassinato de Celso Daniel parecia esquecido. O prefeito de Santo
André era o coordenador da campanha de Lula em 2002, foi capturado na saída de
um restaurante e dois dias depois seu corpo apareceu numa estrada deserta, com
11 tiros. Segundo a polícia paulista, o sequestro foi coisa de uma quadrilha
que o confundiu com outra pessoa. A execução teria sido praticada por um menor
de idade.
Parte
da família de Celso Daniel não acredita nessa conclusão. Passados 12 anos,
coisas esquisitas aconteceram: seis pessoas envolvidas no caso foram
assassinadas a tiros e uma promotora que investigava o caso sofreu um acidente
automobilístico, mas sobreviveu.
Os
inquéritos da polícia foram contestados pelo Ministério Público, mas a
iniciativa foi travada na Justiça, iniciando-se um litígio que está no Supremo
Tribunal Federal. Os promotores acusam de envolvimento no crime o empresário
Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, que dirigia o carro do prefeito quando ele foi
sequestrado. Se essa tese prevalecer, não houve delito comum, mas outra coisa,
mais grave.
A
deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), filha de um empresário de transportes de
Santo André, diz a quem quiser ouvir que seu pai era extorquido por uma
quadrilha anexa à prefeitura que levava o dinheiro ao comissário José Dirceu.
Segundo ela, Celso Daniel queria desmontar o bando.
Assim
como o tucanato desafiou a sorte mantendo o caso do cartel da Alstom em
banho-maria, o comissariado poderá perceber que a procrastinação do julgamento
do empresário foi manobra temerária.
Gabrilli
pergunta: "Porque 'Sérgio Sombra' não foi julgado?".
Se o
STF destravar o processo, é difícil, mas pode até acontecer de Sombra ir a
julgamento antes da eleição.