sexta-feira, 30 de maio de 2014

Jaime Cimenti

Uma história de horror existencial

O romance Antes que eu queime é a estreia literária no Brasil do consagrado escritor norueguês Gaute Heivoll, nascido em Sorlandet, em 1978, e autor de dez obras envolvendo poesia, literatura infantil e romances. Gaute foi publicado, pela primeira, vez em 2002. A terrível história de Antes que eu queime trata de uma série de incêndios criminosos numa pequena localidade, Finsland, no Sul da Noruega.

Todos temem descobrir que o incendiário seja um vizinho, um amigo ou um conhecido. A obra deu a Gaute reconhecimento internacional, foi aclamada e premiada em toda a Europa e mereceu os prestigiados prêmios Brageprisen e o Sorlandets Literaturpris, na Noruega. O romance está sendo considerado uma das obras mais instigantes da literatura escandinava contemporânea.

A obra parte de um ponto de vista inusitado. Em 1978, diversos incêndios começam a atingir o pequeno vilarejo de Finsland e logo a polícia descobre que um incendiário criminoso está à solta. O medo se instaura entre os moradores da região, que sabem que o bandido pode estar próximo, inclusive na casa ao lado. Nessa atmosfera de tensão e alta turbulência, na antes pacata cidadezinha, cresceu um menino, que foi elogiado por sua professora pelo talento especial que tinha para a escrita. Muitos anos depois, o menino se torna escritor, justamente para narrar a vida do calmo vilarejo que ardeu em meio às estranhas chamas.

A história dos incêndios se mistura aos primeiros meses de vida do autor e atingiu o ponto culminante na noite após o seu batismo. O estilo da narrativa é sóbrio, contido, com frases, parágrafos e capítulos curtos, mas, ao mesmo tempo, é um estilo extremamente vigoroso, com narrações e descrições precisas e ritmo adequado a uma história de horror existencial.


Em meio às paisagens ora verdes, ora nevadas, a vida do autor e o noticiário policial do final da década de setenta, na Noruega, se misturam e são narrados, com muita habilidade, numa pungente de vida, onde há, principalmente, reflexões sobre o ofício da escrita e a fragilidade da palavra. Na verdade, o próprio ato de escrever ocupa o primeiro plano do romance, com suas fantasias, suas obsessões e com a milenar necessidade de contar do ser humano. L&PM Editores, 256 páginas, tradução do norueguês de Guilherme da Silva Barga, R$ 42,00, www.lpm.com.br.